Brilhando muito no ecrã, a frase ri-se de mim. Atira-me com as consoantes, pisa-me as vogais que desarrumam a pontuação e desalinham o texto... Ri-se, a malvada.
Abandono o computador e deixo-a a rir alto, às gargalhadas, subo as escadas e ouço ainda aquele desdém escarninho...
Regresso.
Tudo está igual. Era uma secreta esperança, a que eu tinha escondida no peito, de que se a deixasse só, ela se organizasse na inquietude que eu quero dizer, a inquietude que anda às voltas no labirinto do pensamento a espalhar ecos que sufocam...
Não a sei dizer. Parecia fácil, tão fácil...! Mas escrever emoções é um exercício arriscado, pintar inquietudes, um gesto impossível. Talvez por isso elas me amordaçam tantas vezes, porque eu sei-as e não as sei dizer...
Tento de novo. Nenhuma tecla se arrisca. Nenhum texto ganha corpo nas palavras que me fogem... Procuro-as na chuva forte que cai. No vento frio deste inverno sem fim. No negro pesado do céu manchado de nuvens. Procuro-as nas minhas mãos vazias. E dentro dos meus olhos.
Desisto. A frase já não se ri, calou-se por fim. No silêncio desta noite sem voz, ronronando no computador, algures, perdidas de mim, estão as minhas palavras à espera que eu as saiba dizer. À espera.
À espera.
6 comentários:
Lindo, lindo, lindo o teu texto.
Obrigada Sonhador :)
Volta sempre.
Beijinho
O tanto que eu não faço - nesta luta calada...
Beijinhos
Kleine
São as lutas mais duras, Kleine... As que travamos em silêncio.
Um beijinho
Gostei imenso dos teus textos revelam sentimentos profundos.
Desde o teu toque nas palavras simples até ao toque mágico que dás ás frases e poesia.
Muito Bom mesmo *
Obrigada Zinara :)
És muito bem vinda, volta sempre que queiras.
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