domingo, 31 de janeiro de 2016

Como uma árvore


Como uma árvore, às vezes penso, o homem pode subir alto, mas as raízes não sobem. Estão na terra, para sempre, junto da infância e dos mortos.

Vergílio Ferreira, in Alegria Breve

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Arrependi-me sempre das palavras


Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. A partir dos dezasseis anos, conheci muitas mulheres, senti algo por todas. Quando lhes lia no rosto um olhar diferente, demorado, deixava-me impressionar e, durante algumas semanas, achava que estava apaixonado e que as amava. Mas depois, o tempo. Sempre o tempo como uma brisa. Uma aragem suave, mas definitiva, a empurrar-me os sentimentos, a deixá-los lá ao fundo e a mostrar-me na distância que eram pequenos, muito pequenos e sem valor. E sempre só a solidão. Sempre. Eu sozinho, a viver. Sozinho, a ver coisas que não iriam repetir-se; sozinho, a ver a vida gastar-se na erosão da minha memória. Sozinho, com pena de mim próprio, ridículo, mas a sofrer mesmo. Nunca me tinha apaixonado verdadeiramente. Muitas vezes disse amo-te, mas arrependi-me sempre. Arrependi-me sempre das palavras.

José Luís Peixoto, in Uma Casa na Escuridão

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Insomnia


Pregada no silêncio como uma estrela quieta, no céu escuro.
Dançam incêndios na insónia da minha noite e na praça o relógio bate as horas, lentamente.
Não as conto.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Feliz 2016!


O futuro está cheio de momentos impossíveis à espera de acontecerem.

José Luís Peixoto, in Galveias

(Em 2016, que todos os impossíveis sonhados nos aconteçam...
A si que me visita, obrigada por continuar por aqui, desejo-lhe um Feliz Ano Novo!)