terça-feira, 30 de setembro de 2008

Do outro lado


Hoje olhei-me ao espelho e não gostei nada do que vi. Não era, não podia ser eu, aquela pessoa estranha que me olhava do outro lado... A sensação é gelada, como a do gume de uma faca que de repente nos risca a pele e deixa o coração em suspenso. Estranhei-me profundamente, do olhar embaciado ao inexistente sorriso, da pele pálida às rugas sulcadas sem timidez...
E o confronto foi tão desagradável, tão doído, que virei as costas devagar e decidi que só regresso ao espelho quando conseguir regressar a mim.
Até lá, ignoro a estranha do outro lado.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sentido único


Ninguém precisa mais de um sorriso do que a pessoa que não tem nenhum.

Autor desconhecido

domingo, 28 de setembro de 2008

Palavras sábias



Quando encontrar alguém e esse alguém
fizer seu coração parar de funcionar
por alguns segundos, preste atenção:
pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso
entre eles, fique alerta:
pode ser a pessoa que você está esperando
desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso,
se o beijo for apaixonante,
e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos
chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou um presente divino: O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro
por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se:
vocês foram feitos um para o outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas
e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa:
você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento,
sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma,
um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra envelhecendo e,
mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir fechar os olhos, antes de ver a outra partindo:
é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida
poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais,
deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio.
Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia
o deixem cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!

Carlos Drummond de Andrade, Conselho de um velho apaixonado

sábado, 27 de setembro de 2008

O poder das palavras


Tenho andado triste.
Descobri que afinal estava enganada e que aquilo em que acredito há tanto tempo, pode não ser a mais pura das verdades. E assumir isto assim, a sós comigo, dói que se farta, como uma ferida que tarda em cicatrizar e cuja dor não nos abandona os dias nem as noites. Está sempre ali, simplesmente ali, encostada a outras chagas, a outras dores, fazendo coro numa melopeia inquietante e medonha. E ando triste porque descobri que as palavras, que para mim são pontes, podem desabar e afastar-nos de quem gostamos. Num ápice, num rápido estalar de dedos, estremecemos as vidas e as amizades. Tudo porque as palavras não foram claramente ditas, ou correctamente entendidas, tudo porque não se edificaram seguramente as pontes. Mas, sabes, eu penso que os amigos não poupam as palavras, usam-nas à vontade, estendem-nas com segurança até aos lugares do coração, porque aos verdadeiros amigos isso é permitido. Só a eles. Eu não percebi as tuas palavras (mea culpa!) e tu deixaste-as cair... Talvez demasiado embrenhada em mim, debruçada sobre as minhas próprias dores, não te entendi... Mas talvez pior do que tudo isto, foi ter lido nos teus olhos que não me acreditavas, que me julgavas capaz de uma atitude cruel... me vias como um ser humano mesquinho e vil...
Agora nada mais há a fazer. A não ser, claro, tentar reconstruir o que ruiu e reerguer as pontes, palavra por palavra. Acredito que é possível... Acredito que os amigos, os amigos leais e verdadeiros, não guardam na alma rancores ou mágoas... mas abrem o coração ao recomeço e ao reencontro. Que pode ser com palavras. Porque não?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Palavras brandas


Se for preciso, irei buscar um sol
para falar de nós:
ao ponto mais longínquo
do verso mais remoto que te fiz

Devagar, meu amor, se for preciso,
cobrirei este chão
de estrelas mais brilhantes
que a mais constelação,
para que as mãos depois sejam tão
brandas
como as desta tarde

Na memória mais funda guardarei
em pequenas gavetas
palavras e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros
de cheiros e sabores

Só não trarei o resto
da ternura em resto desta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo:
quando a quiseres -

Ana Luísa Amaral, As pequenas gavetas do amor

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vox populi, vox Dei


Não podes impedir que os pássaros da tristeza voem sobre a tua cabeça, mas podes impedi-los de lá fazer o ninho.

Provérbio chinês

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Outono em mim


Ao longo do dia, enquanto sumariava e numerava as lições, não conseguia evitar o olhar desdenhoso do calendário que me atirava a data, impiedosamente. Hoje chegou o Outono. Custa-me sempre transpor esta barreira nos dias, nas horas, no tempo. Talvez porque a minha alma, de um claro e límpido azul de mar e céu sem nuvens, não se dê bem com as cores outonais. Pesa-me o acastanhado triste dos dias que se vão tornando tão curtos, enjoa-me o cheiro a chuva e frio que hoje abafava a cidade, sufoca-me a falta de luz que torna tudo tão triste, tão opaco... Nesta altura, custa-me ter de deixar de sentir o roçagar do vento na pele nua dos braços... e talvez o frio que sinta seja mais cá dentro, deslizando em mim, do que no ar que respiro.
Suspiro resignada porque esta é uma revolta inglória. O Outono aí está, nos pés molhados, no escuro dos dias, no arrepio das manhãs tímidas, na hora que em breve mudará... Mas não consigo deixar de sentir isto, esta espécie de tristeza envolvente que me cala a voz e me deixa mais parada, mais lenta, me enche de uma melancolia pesada em tons de Outono, de uma nostalgia líquida, que escorre dentro de mim como lá fora a chuva na vidraça.

sábado, 20 de setembro de 2008

Pontes entre nós

As palavras que dirigimos a quem amamos, não são palavras. São ruas, são estradas, são caminhos...
São pontes.
E que nunca caiam as pontes entre nós.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Palavras belíssimas


um corpo lembra com exactidão
outro corpo.

reconhece-o por sobre o tempo,
quando aquele é seu lugar definitivo.

sílvia chueire, reconhecer

terça-feira, 16 de setembro de 2008

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Ó Stora...


- Ó Stora, por acaso até já tinha saudades suas!

- Ó Stora, este ano está mais gira!

- Ó Stora, ainda bem que ficou connosco...

E eu, que ando tão fragilizada e tão sensível, respondi-lhes aos mimos com sorrisos quase envergonhados e desviei as pestanas demoradamente para a ponta dos sapatos, na esperança de que não me descobrissem o olhar embaciado.

sábado, 13 de setembro de 2008

Palavras...


... não é fácil, eu sei. Hás-de ter sentido a falta de qualquer coisa, da humanidade de um som que te fizesse descer à terra, do calor que a minha voz não tinha. Eu sei. Ninguém vive só de amor e muito menos de um amor quase ausente. Eu sei, eu sei que é estranho este meu modo de ser e de te dizer, em silêncio, que te amo.

Manuel Jorge Marmelo, O homem que julgou morrer de amor

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

No fundo da gaveta...


Esta semana tive que mudar de telefone. Do fundo de uma gaveta saiu o meu antigo telemóvel, o primeiro que tive com visor colorido e que não via a luz do dia há alguns anos. Depois de o carregar e activar, chamei a lista de contactos para perceber quantos números tinha que actualizar... e confesso, não estava preparada. Não me lembrava já de ver o teu nome escrito, a sorrir-me assim, luminoso e brilhante, a esbofetear-me o rosto e os sentidos como um raio de sol inesperado. Com o coração apertado, vasculhei a caixa de mensagens à procura de uma sms tua que ali estivesse ainda repousando esquecida... e encontrei-a. Era uma mensagem de Natal, um Natal distante e perdido já no tempo, há tanto tempo atrás e parecendo ainda ontem! O último Natal que tu viveste. Não sei quanto tempo estive assim, inerte, com o telemóvel encostado ao peito, talvez na esperança de que ele me devolvesse a tua voz, a tua vida, ainda que por breves momentos. E o teu nome sorrindo-me, tão vivo, tão diferente das letras cravadas numa lápide branca e gelada... O teu nome que eu não queria apagar... talvez não fosse ainda a altura...

Qual é o momento certo para apagar o nome, o contacto, o e-mail de alguém que já perdemos?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Palavras guardadas




Por onde passaste tu que me ficaste cá dentro?

José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Na corda bamba



Sinto que não possso perder o equilíbrio agora...
Tu bem me dizias... Ao mundo não interessam as nossas lágrimas, as nossas feridas, ou tão pouco as quedas que damos.
E hoje acredito-o finalmente.

sábado, 6 de setembro de 2008

Teimosamente...



Obstinadamente, persisto no sonho. E aqui fico, agarrada a ele, como lapa no rochedo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Contigo, Amor


Hoje queria ser a primeira pessoa a brindar contigo... e queria fazê-lo a sós.
Fecha os olhos e pede um desejo... quem sabe, talvez seja igual ao meu...

terça-feira, 2 de setembro de 2008

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Em Setembro


Gosto muito do mês de Setembro. Sempre gostei. Há algo de mágico neste mês pequenino que esvoaça tão rápido e deixa o coração aconchegado de optimismo. É sem dúvida, o mês da esperança, da renovação, do recomeço. A seguir às férias e ao calor de Agosto, em Setembro saboreio com melancolia uma página em branco que esperançadamente desejo conseguir escrever bem. Tanta coisa acontece em Setembro! Um novo ano lectivo arranca e traz com ele toda a confusão de qualquer reviravolta: novo ritmo, novo horário, novas turmas, novos programas, novos livros, novos colegas... É tudo novo em Setembro, até a luz dos dias, definitivamente mais curtos e no entanto ainda mornos e brilhantes. A cidade volta a ser nossa, o silêncio cai de novo na praia e as ruas aquietam-se acolhendo o caminhar dos passos errantes em finais de tarde. Tudo fica mais bonito... até as esplanadas tranquilas, reconciliadas com a pacatez recuperada e conformadas com os lugares vazios, onde podemos demorar as palavras abraçados a um agasalho suave.
Em Setembro há uma doçura nos dias e inspira-se a serenidade indispensável para recomeçar...
Sem qualquer sombra de dúvida, Setembro é um dos meses queridos do calendário, também por outras razões às quais não dou voz e que prefiro deixar guardadas no peito...