quarta-feira, 30 de abril de 2008

Tu em mim


O meu amor não cabe nas palavras, transborda dos versos, é maior do que o poema...
O meu amor não se deixa dizer, anda por dentro do silêncio a formular loucuras com a nudez do teu nome.


terça-feira, 29 de abril de 2008

Às voltas...


Há dias disseram-me que penso de mais... E desde então, não consigo deixar de pensar nisso.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Palavras acertadas


O Tempo é um ser difícil. Quando queremos que ele se prolongue, seja demorado e lento, ele foge às pressas, nem se sente o correr das horas. Quando queremos que ele voe mais depressa que o pensamento, porque sofremos, porque vivemos um tempo mau, ele escoa moroso, longo é o desfilar das horas.


Jorge Amado, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

domingo, 27 de abril de 2008

Mau feitio


Às vezes tenho mau feitio. Nem sempre, mas às vezes acontece... nem eu sei bem porquê. Não são importantes as razões, aliás elas podem ser inúmeras que isso é o menos relevante para a questão. O facto é que eu sei que fico intragável, insuportável, irascível, azeda. Eu atribuo as culpas deste traço do meu carácter ao cruzamento desfavorável dos astros, aos orixás, ao tempo, ou até ao signo ao qual pertenço. Mas conheço-me tão bem que sei que nas alturas de mau humor não sou flor que se cheire e não me recomendo. E nesses dias seria bom poder fugir a sete pés da civilização, rumar a uma ilha deserta onde ninguém me encontrasse até que a neura desistisse e me desse tréguas. Porque eu tento, sabias? Juro que tento não responder torto, não levantar a voz, não mostrar impaciência ou intolerância, pensar antes de disparar uma resposta sarcástica ou agressiva... Tento muito e falho quase sempre. E depois arrependo-me. Tarde de mais, porque a louça já está partida e os cacos no chão olham-me desdenhosos, cuspindo o desprezo num olhar cintilante. É então que a calma volta e com ela o arrependimento por não ter sido capaz de segurar as emoções, por não ter refreado o mau feitio... Todos temos dias... eu sei... mas estes meus dias de neura deixam-me triste porque não consigo deixar imperar a razão, ela sucumbe sempre a este caprichoso coração que tudo dita, tudo pode, tudo ordena. E é apenas um coração como o de toda a gente. Um coração que tem dias... de muito mau feitio.

sábado, 26 de abril de 2008

Sentido único


Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos.

William Shakespeare

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Bonança


Sei então agora que é assim.
Sinto que este tempo doce de bonança pode virar tempestade altiva num inesperado jogo de luzes de aurora boreal.
Sei então agora que é assim.
Os deuses não se compadecem da felicidade humana. Ciumentos, acabam por cobrar as horas de alegria e impiedosos, roubam os sorrisos aos homens. Depois, irados, insurgem-se no vento da tarde fria, anunciando o fim da calmaria, despedaçando os incautos batéis que se fizeram ao mar, como sentinelas vigilantes impedindo a entrada no paraíso prometido.
Nenhum marear é seguro, nenhum tempo é de eterna bonança. Mas enquanto os ventos são favoráveis, iludimos os deuses, enganamos os tempos e tomamos o leme da felicidade. Porque agora eles dormem cegos e não se revoltam... para já... ainda não.
Sei então agora que é assim...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Liberdade


Não temas... Há elos que não são cadeias...
Há correntes que seguram sem apertar, sem ferir.
Há cadeados que nos prendem à vida.
A maior prova de liberdade é a escolha voluntária das nossas próprias amarras.
Deixa-te prender... e não temas.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Vox populi, vox Dei


Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado.

( Provérbio árabe )

terça-feira, 22 de abril de 2008

As asas do Amor


A aula deslizava serena, embalada pelas gotas de chuva que soavam fortes nas vidraças, nublando de liquidez parda esta manhã de Primavera esquecida. Um aluno esforçava-se por conseguir emprestar à leitura toda a ironia mordaz do Eça de Queirós. E eu, que conheço o texto de cor, disfarçadamente espiava-lhes as reacções, tentava adivinhar a motivação, procurava o interesse que a leitura exigia. Vi então o Francisco rabiscar uma ou duas frases na folha do caderno que arrancou silenciosamente, dobrou com cuidado em quatro e escondeu na palma da mão. A situação não é invulgar e eu nunca sei como vou reagir. Aguardei pois. Pelo canto do olho, vi-o estender o braço para a carteira de trás e observei o início da viagem que faria aquela missiva... A leitura prosseguia e a chuva ganhava força, juntava a sua voz molhada a uma onda solidária que levaria aquele bilhete ao seu destino. Eu continuava a gerir a aula, tentando que nenhum olhar ou gesto denunciasse a minha conivência e secretamente tentava adivinhar o destino do papelinho. Ia já na segunda fila e após uns minutos de espera intranquila, atravessou para o corredor de carteiras encostadas à janela. Aí teria que parar. Aí desembarcaria numas mãos femininas que talvez o esperassem com impaciência. Apostei. E ganhei. Nas mãos da Beatriz, o papelinho viajante repousou enfim da atribulada peregrinação que sofrem todos os bilhetes de amor. E disfarçadamente, ela meteu-o no bolso do casaco de onde sairia para ser avidamente lido mal eu me virasse para completar o esquema no quadro. É sempre assim. Aos dezassete anos, o coração é inquieto demais, não pode aguentar a espera do redentor toque de saída que lhe permitirá ler com ansiedade palavras de amor escritas numa aula, ao sabor das farpas certeiras do Eça de Queirós. Nada mudou. Sabendo disto, virei-me para o quadro e completei o esquema inacabado, demorando talvez mais tempo do que o que seria necessário... Há coisas que um professor não deve ver, não deve acusar. E um bilhete de amor não se denuncia... esconde-se na mão em concha, com os olhos a brilhar e um sorriso estampado na voz... como um tesouro.
Nada mudou... ainda se escrevem bilhetes de amor durante as aulas e eles percorrem silenciosamente a sua rota debaixo do olhar cúmplice de um docente que de vez em quando, como nos palcos os actores, veste as roupagens de um anjo da guarda que lhes abençoa o voo e lhes acarinha o destino.

domingo, 20 de abril de 2008

Palavras finais

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade, Adeus

sábado, 19 de abril de 2008

Amar é...


Amar não é olharmos um para o outro, mas sim olharmos juntos na mesma direcção.

Autor desconhecido

sexta-feira, 18 de abril de 2008

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Silêncio


Que mais há a fazer quando já fizemos tudo o que poderia ter sido feito?
Quando todas as cartas foram jogadas, todos os trunfos usados, quando se arriscou tudo e se perdeu?
Que podemos nós fazer quando todas as palavras foram já ditas, todos os verbos usados?
Com que armas podemos nós lutar, quando os argumentos se rasgaram, as razões se gastaram, os motivos se calaram?

- Desistir - disseste tu.

E nem percebeste que isso me soou ao silêncio da morte.
E eu não te disse que nunca te deixarei morrer.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Profanação


Deus deu uma alma ao Homem, uma alma cheia de mistérios e silêncios, tal como o universo.
Por que motivo queres desvelar o que Deus escondeu numa alma?

terça-feira, 15 de abril de 2008

Regressar...


Hoje preciso de conversar. Sei que me escutarás, aí desse outro lado desta minha janela, chamemos-lhe assim... Preciso de te contar das coisas que se fazem urgência, que é preciso que sejam ditas. Sabes, quando criei este espaço, há quase seis meses, fi-lo por uma série de razões que guardarei apenas para mim... E do mesmo modo, quando o encerrei, há pouco mais de uma semana, tinha os meus motivos que não serão com toda a certeza fascinantes para a blogosfera e que por isso mesmo, ficam aninhados no meu peito. Na semana em que não escrevi, vinha só aqui de fugida, ao fim da noite, para publicar os comentários. E foi com incrédula surpresa que fui recebendo as vozes dos que me lêem, ecos de sentimentos, de emoções, de impressões dos que me visitam regularmente. Perplexa, atónita, ouvi vozes que nem sonhava existirem... e senti de repente, muito medo. A responsabilidade soou pesada, como um fardo subitamente carregado de mais. Eu, que aqui venho diariamente falar sozinha, encontrar-me com as palavras, apaziguar-me com o silêncio (vá-se lá saber como ou porquê...!), digo coisas que tocam a vida e a alma de leitores que andam por aí, vigilantes... Mas depois, como açucar no mel, em forma de sorriso, veio outra descoberta: alguém me sentira a falta, alguém me notara a ausência... ou melhor, a falta das coisas que eu digo. Porque, queria muito que entendesses, eu sou apenas uma voz. Não pretendo ser nada mais do que isso. Mas esta voz está hoje diferente... Hoje sinto que não estou só, que há quem me beba as palavras, atentamente, quem me siga os passos diariamente, talvez porque neste espaço falamos a mesma linguagem, a das emoções, reais ou fictícias, presentes ou passadas, apenas emoções. E é tão difícil falar de emoções, de afectos... Por vezes rasga-nos a alma mas é uma dor que traz consigo o alívio, a catarse. E é disso que continuarei a falar porque não conheço outra linguagem nesta ilha onde me pacifico... onde me encontro todas as noites a sós comigo. É por tudo isto que quero dirigir-me hoje aos que nos últimos dias me deixaram um comentário na caixa do correio, aos que comigo falaram pessoalmente, aos que me telefonaram, aos que me escreveram... A todos os meus comentadores, identificados, anónimos, bloggers, retribuo o carinho e reitero o convite para que voltem sempre e se sintam em casa. Eu sei, a casa é minha, mas habitada tem outra doçura, outro encanto. As minhas portas estarão sempre abertas para quem me quiser visitar e partilhar palavras. Regresso acarinhada, mimada, recuperada, eu diria até, feliz. Porque descobri que há lugares onde nos sentimos bem, onde desejamos ficar para sempre, de onde só saímos se nos expulsarem, se não nos sentirmos desejados... e este blog é um lugar assim. Pequenino, mas um lugar... onde me apetece ficar.
Prometo voltar amanhã... Volta tu também.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

OPEN


Mais cedo ou mais tarde, regressamos sempre aos lugares onde fomos felizes.

domingo, 6 de abril de 2008

POST SECRET


Atiraste-me outra vez para dentro de mim. Embato violentamente contra os limites do meu corpo, oscilo contra as bordas do meu ser... e aqui fico... enrolada para dentro, encostada às emoções.
Sou só muro, carapaça, sou só ausência, para onde me atirou o teu silêncio.
Ficarei assim, feita novelo de angústia, até que semeies de novo as palavras, até que as regues e as faças crescer e elas entrem por mim adentro, verdes, viçosas e urgentes, roubando-me espaço, obrigando-me a vir à tona respirar. E então, sei que terás ainda um punhado de palavras simples que me atirarás ao peito, que se farão escadaria forte e segura por onde eu possa subir, por onde eu possa fugir de mim, cansada da escuridão.

sábado, 5 de abril de 2008

Calma


A calma não desce.
Tudo está em silêncio, a casa parece ser a única testemunha inerte de uma noite morna e nublada. Sonolentos, os magros candeeiros da rua deserta piscam uma luz triste e baça. Há apenas uma janela acesa, a do vizinho em frente. Não sei quem é, talvez um noctívago ou um insone inquieto, como eu. A meu lado, o borbulhar da água tónica gelada faz coro compassadamente com o ronronar do computador, numa espécie de embalo musical. A indolência parece ter envolvido a noite, nada rasga a quietude do momento. Tudo parece suave, harmoniosamente tranquilo. Quase tudo... Em mim, a única nota dissonante.
A calma não desce.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Palavras saboreadas


Respiro o teu corpo:
sabe a lua-de-água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
ao sangue dos rios,
sabe a rosa louca,
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

Eugénio de Andrade, Lettera Amorosa

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Puro egoísmo



Às vezes sinto
que este pôr-do-sol
é só meu
e que o mar
desmaia no areal
para vir ter comigo...

terça-feira, 1 de abril de 2008

Borboletas


Às vezes não vemos o que está mesmo em frente dos nossos olhos... Por egoísmo, por pressa, por desatenção porque o nosso universo particular nos ata as mãos e nos venda os olhos, às vezes passamos ao lado das emoções e não reparamos. E hoje eu não te vi. Sei agora, que o dia acabou e tenho tempo para pensar com o coração, que algo em ti estava diferente. Agora me lembro que hoje havia uma sombra na luz do teu sorriso e que falaste pouco, muito pouco. Agora faz sentido o modo como arrastaste a conversa, as suspensões, a hesitação ao terminar as frases. Mas só agora, que me nasceu tempo na ponta dos dedos para te escrever, eu vejo a tua ausência em mim, eu penso a tua falta... Talvez por isso, sinto borboletas inquietas a roçagarem-me o coração, mariposas agitadas que me despertam um sentimento de culpa difícil de serenar.
Hoje precisaste de mim e eu não te vi.
Perdoa-me...