segunda-feira, 24 de maio de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

A vida é um jogo


A vida é um jogo - dizias. E eu penso no punhado de sonhos que acarinhamos no peito, naquele preciso momento em que as nossas cartas repousam em cima da mesa, de costas voltadas, e não as conhecemos. Não sabemos ainda que cartas a sorte nos deu, que escolhas fizeram os deuses, num momento de ira ou de docilidade. Mas aquele é o jogo que temos e queremos jogar bem, e há mundos e sóis nos nossos sorrisos... Depois, é com esperança que lhes pegamos e as começamos a ver, uma de cada vez. As cartas da vida, nas nossas mãos. Às vezes não temos trunfos. Às vezes não temos todos os naipes. Às vezes as nossas cartas são más e sem valor. E às vezes não temos um parceiro que segure as nossas jogadas. Vamos a jogo, mesmo assim. Teimosamente, vamos a jogo. O jogo do nada entre as mãos e a esperança de que a sorte mude... E muitas vezes desistimos, dámo-nos por vencidos à partida, antes do jogo terminar...
A vida é um jogo. Vamos jogando e contando os pontos, vamos somando vitórias, acumulando derrotas, mas jogando sempre. Procuramos o sorriso do rei de copas e a vida dá-nos espadas. Desejamos o rei de ouros, o rei de paus, e a vida deixa-nos sem trunfos...
A vida é um jogo - dizias. Tu nunca fizeste batota. E eu penso no teu rei de copas perdido nas primeiras jogadas, penso no desalento com que contas as pontos, com que somas derrotas e segues jogando, segues espreitando as cartas da vida sabendo que dificilmente ganharás este jogo. E aquele. E mais outro ainda... Tantos jogos perdidos, tantas derrotas somadas nos teus olhos molhados, tantas percas no frio das tuas mãos, tantas cicatrizes riscadas pelas espadas do azar...
A vida é um jogo - dizias. E eu ouvia-te e percebi que já não queres ir a jogo, que já pousaste as cartas com gestos calmos em cima dos dias... Eu soube que já desististe de jogar. No teu coração, jogador cansado de jogos sem trunfos, não se aninha já a esperança. No teu olhar, todos os gestos estão perdidos, todos os céus se apagaram...
A vida é um jogo - dizia-te. Sim, a vida é um jogo, de sorte e azar. Mas mesmo sem trunfos, mesmo quando só perdemos, mesmo sem fazer batota, sem enganar a vida, temos que ir a jogo. Outra vez.
E por isso te peço: Respira fundo, bem fundo, limpa as lágrimas, sacode o pó da roupa... e joga o jogo da vida, mais uma vez.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Porque gosto de ti


Soube que gostava de ti quando estiveste doente e ficaste quase um mês no hospital... Não era a preocupação normal com o estado de saúde de uma colega, era a estranha inquietude que só conseguimos sentir em relação aos que amamos... Era a falta e o desassossego, era a tua ausência que me doía... Depois fui eu operada, lembras-te? O risco não era a cirurgia, mas aquilo que os médicos iriam encontrar dentro de mim... E eu soube que gostava de ti porque estiveste sempre comigo, nem um só dia deixei de sentir a tua mão entre as minhas, confortando-me e dando-me forças para me reerguer, protegendo-me. Mais tarde, foi o meu aniversário. E eu soube que gostava de ti quando fazia a lista dos que queria junto de mim nesse dia e a minha mão desenhou o teu nome mesmo antes de eu o ter pensado... Tu, no meu mundo de afectos, naquele dia. E depois, na Páscoa, fomos a Londres. Durante cinco dias estivemos sempre juntas, e rimos muito, e revelámo-nos, e tu foste o amparo e o sorriso, a ternura e a razão, o ombro e o colo... A viagem foi mais bonita... E eu soube que gostava muito de ti.
Hoje fazes anos. Vou comprar-te um presente, um que tu adores, mas sei que isso não é o mais importante... Os presentes verdadeiramente valiosos são os amigos como tu, os anjos que nos sustêm quando as nossas asas estão magoadas, os sorrisos sinceros com que brindamos à vida... Fazes anos e eu quero dizer-te o quanto gosto de ti, o quanto a tua amizade é um tesouro precioso... e o quanto admiro o teu coração leal e sincero, como só têm os verdadeiros amigos. Quero abraçar-te e desejar-te um dia feliz, muito feliz. E quero que saibas o quanto gosto de ti.
Parabéns, Nani! E que a vida te sorria sempre.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Vox populi, vox Dei


No fim do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa.

Provérbio italiano

Na água das palavras


Roubei-te um texto esta noite. O teu texto mais belo, tomei-o para mim. Daqueles que me perturbam, que falam do indizível, que despem as palavras do pudor e me emocionam. O texto que eu não sabia dizer. Um texto que era veleiro e navegava nas águas do meu sonho, com as velas brancas desfraldadas como bandeiras felizes. Um texto que me sorria, feito de água... Desculpa. Roubei-te um texto porque me chamava, me agarrava... e tinha um verso que rimava com o meu nome. Um texto que queria ser meu... Um texto que escreveste para mim.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Prender as palavras


Às vezes, como hoje, enrolo-me para dentro de mim e abraço-me ao silêncio. Prendo as palavras, a voz de todas as palavras, seguro os gestos urgentes, e espero. Às vezes não gosto de mim nem disto que ecoa cá dentro, que pulsa devagar como um coração cansado, velho e desistente... Às vezes, como hoje, guardo tudo na gaveta mais desarrumada do sentir e ponho uma música a tocar... Vou ver o mar e derramo o olhar no voo das gaivotas... nas pegadas dos passantes tatuadas no areal... na espuma salgada das ondas muito azuis... Fecho os olhos e ouço o vento. Fecho os olhos e sinto o sol. E espero.
Às vezes, como hoje, eu sei que nada mais posso fazer.
E espero.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Tanto que nós somos


Somos desertos e oásis. Somos estrelas. O peso de uma flor, a casca de um fruto, areia dourada e conchas desfeitas. Somos tudo e somos nada. Somos sonho, navio e naufrágios. Somos neve. Somos fogo e cinzas, vento e mar. Somos ombros, sussurros, beijos na boca e sorrisos. Somos ecos, somos nós e somos laços. Somos murros em ponta de facas, muros, silêncios e vazio. Somos música e janelas abertas. Somos surpresas, lágrimas e conversas. Somos ilhas. Somos pontes. Somos o sol riscado a giz nos passeios da cidade, coração desenhado com o dedo à beira-mar. Somos flores silvestres sobrevivendo na berma da estrada. E somos risos e lágrimas e saudade e distância. Somos tempo, abismos e precipícios. Queda livre e corda bamba. Somos chegadas e partidas. Somos memórias. Somos desespero, pesadelos e loucura. Somos dor. Somos algemas e prisões, borboletas no estômago e pancadas no peito. Somos segredos e somos verdades. Somos livros e melodias, somos poemas e palavras. Somos caminhos e estradas, atalhos e encruzilhadas. Somos anjos e demónios. Sim, às vezes somos demónios. Mas somos sempre água.

Sem palavras


terça-feira, 11 de maio de 2010

Vertigem


Vertigem... vontade de ser pássaro para poder abrir as asas e soltar a alma num voo infinito, naufragar no mar da tua boca, despedaçar-me nos precipícios da tua pele...

domingo, 9 de maio de 2010

Do silêncio


Gosto de entrar para dentro dos teus olhos e na encruzilhada de emoções, seguir o rasto das tuas palavras até às raízes mais fundas do coração... Gosto de ler o que não me diz a tua boca, de adivinhar as palavras que se escondem em cada bater do teu peito... Por isso não perguntes se me dói... Porque dói-me muito. Dói-me este silêncio, que nunca morou entre nós. Dói-me esta vontade de desistir, a respirar fundo no meu poema...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Silêncio suave


E terminam às vezes assim os dias... com este silêncio suave batendo-me às portas do coração, suspendendo as emoções e as memórias fugidias, fazendo ecoar vozes e passos familiares, tão próximos, ainda tão perto, tão cheios de infinitos detalhes que os agarro a medo com as mãos em concha e os aperto contra o peito... Para que não os esqueça, para que me fiquem colados à pele... Neste silêncio suave.

sábado, 1 de maio de 2010

Do improvável


Porque a qualquer dia, a qualquer hora e em qualquer lugar, é provável que algo de improvável venha a acontecer.

Aristóteles