domingo, 30 de janeiro de 2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Unique au monde


Je connais, moi, une fleur unique au monde...

Antoine de Saint-Exupéry, Le Petit Prince

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

sábado, 22 de janeiro de 2011

O sangue dos segredos


Eu contarei a beleza das estátuas
- Seus gestos imóveis ordenados e frios -
E falarei do rosto dos navios

Sem que ninguém desvende outros segredos
Que nos meus braços correm como rios
E enchem de sangue a ponta dos meus dedos

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Da Vida


A vida é como andar de bicicleta. Só caímos quando deixamos de pedalar.

Claude Pepper

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Do corpo e da sombra


Só tu e uma serpente
me conhecem por dentro
desde sempre

David Mourão-Ferreira, in Entre a Sombra e o Corpo

sábado, 15 de janeiro de 2011

Antes das palavras


Pego em ti com a ternura amarrotada do cansaço dos dias e estendo-te na folha branca do meu caderno. Penso-te, antes das palavras. Passo os dedos tristes pelo teu corpo e tu sorris-me. Tenho febre e sinto frio... Ignoro a dor no pulsar mais lento, mais fundo do coração...
Com as mãos tremendo, escrevo-te a negro e guardo-te para sempre no meu poema.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Um dia


Um dia mostro-te que o vento norte escreve palavras de espuma na areia da praia. Um dia farei com que acredites que os versos mais belos são os de rima solta, de palavras simples, cheias de música, que nos aceleram o coração quando convocamos a memória... Um dia confesso-te que não há fuga possível quando queremos correr para longe de nós... Porque tudo o que somos, vai preso no nosso peito e toca-nos com os dedos do vento. Um dia dou-te todos os poemas que fiz para ti.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Palavras serenas


Do beijo fica um sereno
olhar, o amor de coisas
minúsculas e humildes,
um pássaro que vai e vem
da nossa boca às palavras

Fernando Assis Pacheco

domingo, 9 de janeiro de 2011

Mar Negro

Barco Negro - Composição de David Mourão- Ferreira para a voz de Amália Rodrigues

Na minha cidade, na semana passada um pescador desapareceu quando o barco em que pescava foi frágil demais perante a força das águas do mar revolto e irado. As praias encheram-se de gente curiosa, de amigos, de familiares, de profissionais que têm usado todos os meios terrestres, aquáticos ou aéreos para resgatar o corpo do jovem homem. Dias houve em que a força das correntes e a altura das ondas alterosas tornaram impossível que alguém entrasse no mar, que sequer o desafiasse... Restava aguardar. As praias têm sido policiadas numa atitude de passividade, a única possível, na esperança de que o cadáver dê à costa. Li num dos jornais locais que a mãe do pescador desaparecido permaneceu longo tempo sobre a areia, louca de dor, chorando e gritando, implorando ao mar sagrado que lhe devolvesse o seu menino... Possivelmente a mulher e os filhos contarão as horas do dia e da noite, imaginando o corpo amado aos tombos na água gelada, desfazendo-se aos poucos, ou encarcerado nas profundezas do oceano... E a mim parece-me uma dor infinita, esta de não se ter a certeza se aquele que amam lhes será devolvido algum dia, nos próximos dias ou quem sabe, nas próximas horas... É uma dor sem fundo... como o mar infinito e sagrado cujos confins se desconhecem mas que nós homens, mesmo assim, nos atrevemos a desafiar. A mim parece-me uma dor negra e sem fim, a da espera noite após noite, de olhos abertos no escuro, numa eterna e desesperada oração, pedindo a Deus ou à água negra que deite fora aquele que roubou ao coração de quem o ama tanto. Pelo menos para que o vejam pela última vez, se despeçam dele e o devolvam à terra que o tranformará em pó. Porque quem o ama sabe que só assim ele descansará em paz.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

E se eu fugisse?


E se eu fugisse?

E se eu enchesse o meu peito de ave
de coragem atrevida
abrisse as asas e partisse, no tarde da noite
sem ninguém dar por mim?

E se as minhas penas lambessem os céus frios
num voo infinito, traçando o azimute da lua
E se eu rumasse ao branco silêncio das estrelas?

E se eu apontasse o meu bico de pássaro
para o vento norte
e com os olhos cheios de lágrimas
me embriagasse
de azul, de céu, de água, de sal?
E se eu fugisse?

E se eu não voltasse?

domingo, 2 de janeiro de 2011

Luar de Janeiro


O luar quando bate na relva
Não sei que cousa me lembra...
Lembra-me a voz da criada velha
Contando-me contos de fadas.
E de como Nossa Senhora vestida de mendiga
Andava à noite nas estradas
Socorrendo as crianças maltratadas...
Se eu já não posso crer que isso é verdade,
Para que bate o luar na relva?

Alberto Caeiro, Poema XIX in O Guardador de Rebanhos

sábado, 1 de janeiro de 2011

Dia mundial da Paz


Peço a paz
e o silêncio

A paz dos frutos
e a música
de suas sementes
abertas ao vento

Peço a paz
e os meus pulsos traçam na chuva
um rosto e um pão

Peço a paz
silenciosamente
a paz a madrugada em cada ovo aberto
aos passos leves da morte

A paz peço
a paz apenas
o repouso da luta no barro das mãos
uma língua sensível ao sabor do vinho
a paz clara
a paz quotidiana
dos actos que nos cobrem
de lama e sol

Peço a paz
e o silêncio

Casimiro de Brito, "Peço a paz" in Jardins de Guerra