quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo!


O Homem é do tamanho do seu sonho.

Fernando Pessoa

Em 2015, seja gigante nos sonhos que sonha... Reinvente-se e permaneça indestrutível nas batalhas para os alcançar...
Feliz Ano Novo!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Aguarela de Natal


Tento escrever o brilho deste dia. A calma. O céu baixo, naufragado em tons de cinza, o esvoaçar tranquilo das pombas e das rolas, a dança em contraluz dos melros no gramado entristecido do meu jardim. Tento escrever o velho azevinho que se ergue majestoso como um navio, os braços verdes apontando as nuvens, riscando um fio de sol... As flores tímidas pontilhando de roxo a terra negra dos canteiros... O musgo que amacia os muros. 
Tento escrever o Natal, o que existe dentro do meu peito, no coração preso às árvores derrubadas pelo tempo, tombadas de saudade... Mel e canela, na chama da minha memória. Risos e colo. Caramelos de nata com rótulo espanhol. Fotografias desfocadas em papel brilhante que nunca ninguém rasgou. Beijos, muitos beijos.
É Natal e eu não escrevo, nada digo. Prendo-te no silêncio dum abraço infinito, deixo que o meu coração de pássaro se ilumine nas linhas suaves dos versos que nunca serão e que encontre a força do fogo que me corre ainda, algures, dentro das veias...


A si que me visita, desejo um Natal cheio de paz.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Esboços


Como um barco, a cidade afunda-se na noite, vai escorregando lentamente para a escuridão que a engole no meio do silêncio.  Conduzo devagar na noite fria, deixo-me ir na estrada deserta... Há luzes incendiando as janelas dos prédios e espreito pedaços de vidas que moram dentro das casas - fugidias - nos escombros da noite. Imagino histórias. Banais e simples. Uma parede amarela, um quadro da Guernica, a cauda de um piano, uma gaiola redonda com um periquito encolhido... Os móveis brancos de uma cozinha, o rosto da apresentadora da noite numa tv ultramoderna, uma menina que dança com uma toalha na cabeça, um homem que fuma com os cotovelos apoiados no peitoril da janela escancarada, uma mulher lavando roupa na marquise de um prédio triste... Esqueço-me para onde vou. Não tenho pressa, demoro-me nesta ocupação de roubar imagens que contam histórias, de riscar versos tímidos que talvez venham a ser poema... Conduzo devagar, mais devagar. Por detrás dos prédios, a lua corre diante do meu carro, enorme, líquida de luz... Tão bela...! Tão cheia de silêncio e de gelo... Digo o teu nome dentro de mim e há uma montanha que se ergue no meu peito. Apago o poema... Ponho a música mais alto, canto baixinho a canção que adoro e deixo-me ir. Devagar.  Rasgando o ventre da cidade.