As Vozes de Fernando Pessoa silenciaram-se há 82 anos.
E conheço poucos versos tão belos como estes, da estrofe final da "Ode Marítima":
E quando o navio larga do cais
E se repara de repente que se abriu um espaço
Entre o cais e o navio,
Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,
Uma névoa de sentimentos de tristeza
Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas
Como a primeira janela onde a madrugada bate,
E me envolve com uma recordação duma outra pessoa
Que fosse misteriosamente minha.
Fernando Pessoa, in "Ode Marítima"