Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta
pobre ou terrível, que lhe deres:
- Trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade
Que dias há que na alma me tem posto/ um não sei quê, que nasce não sei onde,/ vem não sei como, e dói não sei porquê. - Luiz Vaz de Camões
sábado, 29 de outubro de 2011
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Corremos dentro dos corpos
Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo.
Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto.
José Luís Peixoto, Antídoto
Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança e o desencanto.
José Luís Peixoto, Antídoto
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Voo suave
Ah, quanta vez, na hora suave
Em que me esqueço,
Vejo passar um voo de ave
E me entristeço!
Porque é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Porque vai sob o céu aberto
Sem um desvio?
Porque ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade
Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minha'alma alheia
Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei quê do voo suave
Dentro em meu ser.
Fernando Pessoa, Cancioneiro
Em que me esqueço,
Vejo passar um voo de ave
E me entristeço!
Porque é ligeiro, leve, certo
No ar de amavio?
Porque vai sob o céu aberto
Sem um desvio?
Porque ter asas simboliza
A liberdade
Que a vida nega e a alma precisa?
Sei que me invade
Um horror de me ter que cobre
Como uma cheia
Meu coração, e entorna sobre
Minha'alma alheia
Um desejo, não de ser ave,
Mas de poder
Ter não sei quê do voo suave
Dentro em meu ser.
Fernando Pessoa, Cancioneiro
terça-feira, 25 de outubro de 2011
domingo, 23 de outubro de 2011
Amor e afinal nada
Olhava para a fotografia daquela que amei com amor. Amor. Amor. Amor, gostava de dizer esta palavra até gastá-la ainda mais. Amor, gostava de dizer esta palavra até perder ainda mais o seu sentido. Amor. Amor. Amor, até ser uma palavra que não significa sequer uma ilusão, uma mentira. Amor, amor, amor, nem sequer uma mentira, nem sequer um sentimento vago e incompreensível. Amor amor amor, até ser nem sequer uma palavra banal, nem sequer a palavra mais vulgar, nem sequer uma palavra. Amoramoramor, até ao momento em que alguém diz amor e ninguém virará a cabeça para ouvir, alguém diz amor e ninguém ouve, alguém diz amor e não disse nada.
José Luís Peixoto, Uma casa na escuridão
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Quatro anos
Quatro anos.
De inquietudes. De palavras. De silêncios.
Quatro anos a olhar-me no avesso de mim,
a descer os abismos mais fundos
e a perder-me nos labirintos da saudade.
Quatro anos.
De janelas abertas ao sol
de vento salgado no rosto
de passos solitários e incertos.
Quatro anos...
Consigo, que me visita,
que me oferece palavras e sorrisos
me deixa o eco dos seus passos.
Quatro anos... E tantas palavras...!
...
A todos os que me leem,
Obrigada por estarem aí,
desse lado da vida,
... da minha vida.
Ana Paula
De inquietudes. De palavras. De silêncios.
Quatro anos a olhar-me no avesso de mim,
a descer os abismos mais fundos
e a perder-me nos labirintos da saudade.
Quatro anos.
De janelas abertas ao sol
de vento salgado no rosto
de passos solitários e incertos.
Quatro anos...
Consigo, que me visita,
que me oferece palavras e sorrisos
me deixa o eco dos seus passos.
Quatro anos... E tantas palavras...!
...
A todos os que me leem,
Obrigada por estarem aí,
desse lado da vida,
... da minha vida.
Ana Paula
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Na rede
Abro a lista de favoritos e saio para a blogosfera. Hoje procuro as palavras dos outros porque as minhas não fazem sentido, são uma doida pintura abstrata com cores improváveis, desprovidas de nexo e de sensatez... Hoje recuso a leitura e a escrita, os testes e os textos... Às vezes acontece-me enlouquecer. Às vezes zango-me muito comigo... Como hoje.
Procuro as palavras e entro em silêncio na casa dos amigos, devoro-lhes os textos, tento adivinhar-lhes as emoções, respiro fundo e saio sem deixar rasto... Não quero que me vejam, não quero que saibam que passei por ali... Desejo apenas a invisibilidade e o silêncio. Há blogues onde me demoro mais tempo porque uma palavra especial, um texto devastador, uma música ou um verso, subitamente prendem-me ao ecrã... E hoje finalmente alguém disse aquilo que eu procurava, aquilo que não consigo dizer, e é bom encontrar na rede as palavras que fugiam... É bom vermo-nos nas frases dos outros como num espelho...
Regresso ao meu cantinho, olho o contador de visitas e sorrio... Estão cinco pessoas online. Tento imaginar quem são, se vieram aqui ter por acaso ou se são amigos que entram regularmente, se procuram o mesmo que eu, se também eles encontraram hoje as palavras perdidas nos emaranhados caminhos virtuais desta infinita rede onde nos perdemos, nos reencontramos, onde nos cruzamos sem nos vermos... Onde andamos todos, invisíveis... silenciosos... e estranhamente sós.
domingo, 16 de outubro de 2011
sábado, 15 de outubro de 2011
Como Água
Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se eu não tiver amor, sou como um bronze que soa, ou como um címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé, se não tivesse amor não seria nada. E, ainda que distribuisse todos os meus bens para sustento dos pobres, e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada me aproveitaria.
Carta de S. Paulo aos Coríntios
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Fim
Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida sonho nenhum, e faltam a esse também.
Fernando Pessoa
domingo, 9 de outubro de 2011
Outono
Já é Outono, reparaste? Vê-se na cor plúmbea do mar, na branca crista das ondas, na espuma desfeita nas rochas tão frias... Sente-se na voz das gaivotas um soluço triste porque o Verão se despedaçou no ocaso dos dias. Ouviste-as? Hoje estavam tão tristes, as gaivotas... Aninhavam-se nas dunas duas a duas, com olhos solitários e vazios cravados no dorso das ondas... E a neblina, tão bonita, perdeu o tom de mel na acidez do escurecer mais precoce de Outubro. Entristece-me este Outono com folhas derramadas pelo chão, com árvores desgrenhadas, entristecidas, queimadas por tantos dias de sol agora mais morno, mais manso... A natureza prepara-se para adormecer debaixo da terra, longe dos nossos olhos, no seu imparável e sábio ritmo secular. Em breve estará aí o frio, a chuva, os vendavais assustadores, e o mar, como todos os invernos, galgará os passeios exigindo o seu chão.
Já é Outono... sabias? O silêncio da madrugada arrepia-me a pele num negro muito profundo e tenho o coração inquieto...
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
terça-feira, 4 de outubro de 2011
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