quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Do voo


De que adianta ser pássaro se não se tira os olhos do chão?

Valter Hugo Mãe, in Contabilidade

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Palavras Roubadas


Você é livre para fazer as suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências.

Pablo Neruda

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Cá dentro


Digo-te que tenho medo. Tu sorris e abraças-me com aquele abraço teu de nuvem azul onde me escondo toda, onde me guardas inteira. Perguntas-me pelo meu silêncio e eu hesito (entenderás tu?) antes de te responder. Depois atrevo-me e conto-te do mar do meu silêncio onde há criaturas medonhas e venenosas com tentáculos de polvo que sempre me agarram. Digo-te que sonhei com a mulher que foi levada pelo mar e não voltou... Digo-te que às vezes o mar é assim, guarda no ventre criaturas que toma como suas e não as devolve nunca mais. Também o meu silêncio é um mar roubador - explico-te. Também eu sou prisioneira de vagas de silêncio, dias e dias sem vozes dentro de mim, afogada, enrolada numa onda negra silenciosa. No meu sonho, a mulher que o mar não devolveu tem os olhos abertos de terror e um rosto quase igual ao meu. 
Tenho medo - repito. O teu abraço ainda não acabou mas eu tenho medo, mesmo assim. Fecho os olhos e por momentos sou menina de bibe outra vez, jogo à macaca no recreio da escola, as tranças quase desfeitas saltam e batem-me nos ombros como chicotes. Sou pequenina outra vez... - tenho nódoas negras nas pernas e um sorriso infinito na boca pegajosa do pão com marmelada que a mamã pôs na lancheira. Rio, rio muito e muito alto... Porque sei nadar em todos os mares e ainda nenhuma onda me levou ao fundo, aos abismos silenciosos nos confins do mar mais profundo. 
Conto-te tudo em voz baixa e o abraço desfaz-se. Desfaz-se a rede na nuvem que me guardava e de novo sou arrastada, outra vez regresso ao fundo do medo do meu silêncio, onde ninguém me agarra. E onde me afogo.