terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O tanto que eu não digo


Brilhando muito no ecrã, a frase ri-se de mim. Atira-me com as consoantes, pisa-me as vogais que desarrumam a pontuação e desalinham o texto... Ri-se, a malvada.
Abandono o computador e deixo-a a rir alto, às gargalhadas, subo as escadas e ouço ainda aquele desdém escarninho...

Regresso.

Tudo está igual. Era uma secreta esperança, a que eu tinha escondida no peito, de que se a deixasse só, ela se organizasse na inquietude que eu quero dizer, a inquietude que anda às voltas no labirinto do pensamento a espalhar ecos que sufocam...
Não a sei dizer. Parecia fácil, tão fácil...! Mas escrever emoções é um exercício arriscado, pintar inquietudes, um gesto impossível. Talvez por isso elas me amordaçam tantas vezes, porque eu sei-as e não as sei dizer...

Tento de novo. Nenhuma tecla se arrisca. Nenhum texto ganha corpo nas palavras que me fogem... Procuro-as na chuva forte que cai. No vento frio deste inverno sem fim. No negro pesado do céu manchado de nuvens. Procuro-as nas minhas mãos vazias. E dentro dos meus olhos.

Desisto. A frase já não se ri, calou-se por fim. No silêncio desta noite sem voz, ronronando no computador, algures, perdidas de mim, estão as minhas palavras à espera que eu as saiba dizer. À espera.
À espera.

6 comentários:

Sonhador disse...

Lindo, lindo, lindo o teu texto.

Anna disse...

Obrigada Sonhador :)
Volta sempre.

Beijinho

Anónimo disse...

O tanto que eu não faço - nesta luta calada...

Beijinhos

Kleine

Anna disse...

São as lutas mais duras, Kleine... As que travamos em silêncio.

Um beijinho

Zinara disse...

Gostei imenso dos teus textos revelam sentimentos profundos.
Desde o teu toque nas palavras simples até ao toque mágico que dás ás frases e poesia.

Muito Bom mesmo *

Anna disse...

Obrigada Zinara :)
És muito bem vinda, volta sempre que queiras.