sábado, 21 de maio de 2011

Silêncio

Talvez seja da chuva que se aproxima... Fui lá fora olhar o céu e uma aragem gelada bateu-me no rosto, como as asas silenciosas duma ave nocturna... É talvez da chuva, ou deste vento que me enrola a roupa nos varais e faz bater as portas e gemer as vidraças da casa, que faz vergar as hortências nos canteiros floridos e empurra a bola do meu filho numa jogada doida e fantasmagórica pelo pátio vazio. Talvez seja da chuva este frio que sinto... Um estranho frio colado à pele, preso aos pés, que arrasto pelos aposentos, que me entra pelos bolsos, pelas mangas da camisola, que pousou nos meus livros e invadiu os armários e as gavetas... Este frio que me magoa, só pode vir da chuva... Ou do silêncio.

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