
Pai.
Durante mais de metade da minha vida não usei a palavra. Simplesmente ignorava-a, fugindo dos espinhos que me arranhavam a alma quando a pensava em silêncio. Mas sentia-lhe a falta e era quase dor, a ausência desse dizer...
E um dia, passei a usá-la contigo, ela entrou em mim escancarando quartos fechados e escuros, enchendo-os de sol, derramando a ternura. Hoje é uma palavra feita de colo, de ninho, de doçura, uma palavra com braços, que prende, envolve e acolhe. Uma palavra que beija, uma palavra-cais.
Tem os contornos do teu rosto, a palavra Pai. É como sempre a imaginei, voz presente, amiga, que escuta e ampara, que consola e vigia, que aconselha e orienta, que ri e chora, que ama e brinca...
Quando te espreito sem tu saberes, quando te observo secretamente com os teus filhos, espalha-se uma alegria suave, uma tranquilidade feliz... E quando os olho a eles e descubro o teu jeito de sorrir, as semelhanças no caminhar, os gostos tão parecidos, sinto que é justa essa continuidade em dois seres que têm por ti um amor incondicional e infinito. Porque tu mereces, nessa entrega que fazes à vida dos teus filhos.
Dentro de mim, a certeza absoluta e inegável de que és o melhor Pai que os meus filhos poderiam ter. O único Pai possível.
E é, também por isso, que me enches de orgulho, que me fazes amar-te assim.