segunda-feira, 30 de junho de 2008

Palavras saudosas


Perdemos outra vez este crepúsculo.
Ninguém nos viu esta tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caía sobre o mundo.
Vi da minha janela a festa do poente nos morros distantes.
Às vezes como uma moeda
se acendia um pedaço de sol entre minhas mãos.
Eu te recordava com a alma encolhida
por essa tristeza que tu me conheces.
Então onde estavas?
Entre qual gente?
Dizendo que palavras?
Porque é que o amor me vem assim de golpe
quando me sinto triste, e te sinto distante?
Caiu o livro que sempre se toma no crepúsculo,
e como um cão ferido tombou a meus pés minha capa.
Sempre, sempre te afastas pelas tardes
para onde o crepúsculo corre apagando estátuas.

Pablo Neruda, Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada

1 comentário:

WOLKENGEDANKEN disse...

E a primeira vez que vejo um texto de Neruda em portugues ! Soa curioso. Mas para compensar a foto é muito boa ilustracao.