domingo, 8 de junho de 2008

Café com açúcar


No silêncio do café quase deserto, a voz soou um pouco alta de mais, distraindo a minha atenção da papelada em que me embrenhava.
- Como é que sabias? - perguntou ela, respirando um sorriso meigo e batendo devagar as compridas pestanas pinceladas com rímel negro.
- Eu não sabia... O meu coração é que sabia. - respondeu ele, após uma longa hesitação, durante a qual dobrava cuidadosamente o pacote de açúcar, talvez para esconder o tremor das mãos, que escorria visível.
- Tu não sabias, o teu coração é que sabia... - repetiu ela baixinho, enrolando nos dedos os cabelos lisos que lhe tombavam sobre o rosto.
- É que... sabes... há coisas que o coração reconhece... antes da cabeça descobrir. E comigo foi assim. Simplesmente, o meu coração sabia que te procurava. Que eras tu.
Ficaram em silêncio, olhando-se nos olhos, as mãos como pássaros, enlaçando-se num voo doce onde desaguavam mil desejos.
Eu voltei a concentrar a minha atenção nos papéis, desta vez com uma espécie de conforto a aquecer-me a alma.
E não sei bem porquê, o café soube-me melhor.

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