segunda-feira, 9 de junho de 2008

O Concílio dos Deuses


Hoje recebi um presente. E nem sequer é o meu aniversário... talvez por isso mesmo, este presente ganhou um aroma diferente, o paladar especial que só possuem as coisas preciosas e que o dinheiro não compra porque não estão à venda. Hoje ofereceram-me um poema. O soneto, para ser mais justa, foi-me oferecido por um colega de quem eu gosto muito, com quem me embrenho em longas tertúlias, onde quase sempre ele fala e eu escuto. É uma pessoa encantadora, de uma humildade surpreendente e um poço de sabedoria a quem recorro sempre que preciso de tirar dúvidas. E ele sabe de tudo um pouco e muito de algumas coisas... Filosofia, Cinema, Arte, Música, Literatura, História, Mitologia Clássica, Pintura, Ciências Políticas, Astronomia, Jardinagem... e a lista poderia continuar... Mas, como todos os grandes sábios, este colega é de uma candura inesperada, tem uma paciência infinita para me aturar e ensinar e nunca se ri quando esbarra na minha pequenez... porque à beira dele sinto que nada sei. É um estudioso compulsivo mas tem as mãos feridas das longas horas que gasta a plantar as suas árvores e as suas flores, com os dedos enterrados na terra para melhor lhe sentir o cheiro e a temperatura... Não haverá muitos seres humanos assim e por isso eu sinto um orgulho enorme por partilhar com ele nos intervalos, os cigarros fumados à chuva ou ao sol enquanto a conversa flui sempre até ao soar da campainha...
E porque entendo que as coisas bonitas devem ser partilhadas, aqui fica o meu presente, um soneto lindíssimo que foi feito depois da observação nos céus da Conjunção de Vénus com Júpiter.
Obrigada, M.!


Corri na praia à noite e à lua que espreita
A sua vez de reinar no império da espuma.
Vinha o sol de cumprir o seu périplo que uma
Luminescência astral recordava perfeita.

Dois luzeiros sucedem à poalha que enfeita
O diadema rival do ouro de Montezuma.
Reconheço o maior, da filha que enciúma
O tonitroante pai que com ela se deita.

Estranho é este acaso tão perto do ocaso
Que os dois planetas une em incestuoso laço
Que a mesma rota seguem de um perene exílio

Como aos amantes que um avaro tempo enlace
Para então afastar em cruel paralaxe.
Para tão grandes deuses tão breve concílio!

J.M.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tinha tantas saudades de te ler...!
Bjoca