sábado, 16 de fevereiro de 2008

Palavras tombadas


Caiu do céu uma estrela,
Ai, que eu bem a vi tombar!
Era a noite pura e bela,
Murmurava ao longe o mar...

Era tudo êxtase e calma,
Perfume, encanto, fulgor...
Só no fundo da minha alma
Que desconforto e que dor!

Dorme e sonha, minha bela,
Embalada ao som do mar...
Caiu do céu uma estrela,
Triste do que a viu tombar!

Era uma estrela caída,
Uma entre tantas, não mais!
Era uma ilusão perdida,
Era um ai entre mil ais!

E hás-de viver torturado,
Louco, incerto coração,
Só por um astro apagado,
Por uma morta ilusão?

Dorme e sonha, minha bela...
Como chora ao longe o mar!
Caiu do céu uma estrela,
Ai de mim que a vi tombar!

Antero de Quental, Serenata

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto muito dos verdes anos do Antero, ainda bem que não escolheste a fase revolucionária ou a pessimista.
Este é muito bonito.

Fica bem :)