terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Máscaras


Respiro aliviada enquanto rasgo a folha do calendário que faz desaparecer o rasto do Carnaval, que elimina os seus vestígios deste ano tão pequenino ainda.
É sempre assim, todos os anos o sentimento se repete. Nesta altura, gosto de fugir daqui, rumar a paragens calmas e silenciosas, escorregar por entre a folia e a loucura de uma festa que não compreendo, com a qual não me identifico. De regresso, encaro incrédula a minha cidade suja de confetis e serpentinas, testemunha inerte de dias de máscaras.
Na verdade, nunca gostei de máscaras, disfarces ou fantasias, como há quem lhes chame. Sempre me inquietou ver gente ultrapassar limites sob o véu de um rosto que não é o seu, camuflada numa roupagem que a deixa confortavelmente irreconhecível. Não consigo entender que espécie de prazer ou alegria se pode sentir usando um outro eu, que não é o nosso. Ou talvez entenda...
Respiro tranquila este fim de festa. Ainda bem que a quadra acabou, levando com ela o samba ensurdecedor que não nos pertence, os apitos, as bombas ruidosas e os estalinhos, as pinturas faciais, os trapos absurdos que há quem se atreva a usar, as perucas e chapéus, os papelinhos coloridos, os corsos e os reis momos, as atracções pagas e os espectadores friorentos...
Ainda bem.
Para o ano, o calendário já sabe, volto a desaparecer durante o Carnaval.

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