segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O riso da memória


Pousa a angústia devagar,
deixa que ela te escorra entre os dedos
até ficar assim, sepultada nas palavras...

Depois, respira o riso das memórias felizes
que esculpiste para sempre, sem saberes,
no silêncio suave de tantos vazios...

Prende-o bem, nas tuas mãos mudas,
sente-o pulsar ainda, cheio de vida...
E que isso te baste.

8 comentários:

Lídia Borges disse...

Oh!... Tão lindo!

A suavidade da memória que acaricia e liberta.

Gosto.Gosto muito!!!!


Um beijo

Anna disse...

Tu entendes sempre onde me levam as palavras...

Um beijo, Lídia :)

Anónimo disse...

Sorrir das memórias…

Era noite fria. Muito fria.
Aconchegou-se e sentiu-lhe o calor do corpo. Sentia-se seguro quando a abraçava pelas costas e se enroscavam numa cumplicidade fetal.
O miúdo dormia descansado no quarto ao lado. O miúdo… Por vezes questionava-se se pertenceria efectivamente àquela história… A mulher, o filho, o lar… Se houvesse necessidade de definir felicidade, muito provavelmente fá-lo-ia pela simples descrição da sua vida… Uma profissão que o preenchia e o desejado e repetido regresso a casa… o porto de abrigo…
Sorriu das memórias e aconchegou-se de novo…
E voltou às memória… o dia em que galgou as escadas da maternidade impaciente com a lentidão do elevador e quase desmaiou de amor ao avistar o sorriso doce da mulher e o brilho nos olhos de fêmea fértil e mãe realizada…e o puto?!?! O puto era mais giro que os das capas das revistas. E tinha a cara do Pai. Era a cara chapada do Pai! Se havia obra de que se pudesse orgulhar, era com certeza daquele puto. Que giro! Bem fabricado, modéstia à parte…
Sentiu tocar-lhe nas costa… Estranhou…Voltou-se e percebeu tratar-se de voluntários em apoio a mendigos…Ofereceram-lhe uma sopa quente… Engoliu-a ansioso e voltou aconchegar-se…
Sorriu das memórias e sonhou de novo. Sozinho, na calçada do relento em lençóis feitos de vento…

Era noite fria. Muito fria.
Era noite de Natal.

Cumprimentos do Pedro Gaivota

Anna disse...

Um texto que me fez sentir frio, Pedro. Muito frio.

Um beijo

Anónimo disse...

Gostei do que li, mas principalmente da recomendação final"E que isso te baste..."

Um beijo
LC

Anna disse...

LC, não era uma recomendação... Era um desejo. Porque quando se perdeu tudo e se tem as mãos vazias, só as memórias nos podem permitir recuperar pedaços de felicidade. E sim, só elas rasgam a angústia.

Um beijo

Maria Campos disse...

Não perdi tudo.
Na realidade, até tenho muito.
Mas a angústia, teimosa, ronda-me e aperta-me o peito.
Tento agarrar as lembranças, as boas lembranças. Mas estas e particularmente as melhores, reportam-me à realidade do presente.
O meu presente é bom.Poderei até dizer muito bom.
Mas a angústia, teimosa, continua a rondar-me e faz o favor de sublimar as tristezas, frustações, desencantos e até algumas revoltas . . .

Cara amiga ! O teu texto parece ter sido escrito para mim, como se me tivesses lido a alma!
Mas, vou ter que respirar fundo e esperar o tempo necessário, o meu tempo, para me adaptar às mudanças ...
Desculpa-me, por favor.
Com palavras tão bonitas como as tuas, tinha obrigação de acelerar o processo.
Mas,confesso que está a ser um parto difíci e demorado...
Bj,
Maria Campos

Anna disse...

Não peças desculpa, Maria. Desejo que a tua dor passe... e já sabes, estou sempre aqui.

Um beijo