sábado, 6 de novembro de 2010

Crónica de um improvável amor


Encontraram-se por acaso, como por acaso se encontram as pessoas que nada procuram ou que nada esperam. Que nada acreditam poder já mudar o rumo tão certinho dos seus dias. E o inesperado do encontro contrariava as voltas do mundo na sua constante rotação, as forças do universo em eterno equilíbrio, como se os homens de repente audazes, desafiassem os rumos traçados pelos deuses. Encontraram-se, dizia. E viram-se um ao outro. Talvez aqui seja já diferente esta história neste mundo onde encontramos tanta gente e no entanto, não vemos ninguém... Mas eles viram-se. E reconheceram-se. Ela gostou da doçura do sorriso dele, como uma janela aberta sobre um mundo que de imediato lhe apeteceu desvendar; ele ficou fascinado com a luz dos olhos dela, uma luz que subitamente enchia de cor o quotidiano pálido que habitava... Sentiram, quando se viram pela primeira vez, que não queriam voltar a perder-se um do outro e foi aí que se reconheceram: no preciso instante em que perceberam que se tinham encontrado sem jamais se terem procurado.
Sim, esta é uma história de amor. Esta é a história de um improvável amor, de dois seres que um dia por acaso, ao dobrar uma esquina da vida, chocaram de frente um contra o outro e se prenderam na magia desse instante mágico que parou o universo. Nos céus, os deuses fecharam os olhos e sorriram condescentes... Sim, permitiriam o reencontro daqueles humanos que sabiam que o amor não aparece na vida só quando se procura, mas se reconhece no primeiro momento, na doçura de um sorriso ou na luz que brilha intensa no fundo de um olhar...
Mas como os deuses são ciumentos da felicidade dos homens, decidiram em consílio que entre os dois ergueriam montanhas até ao céu, cavariam abismos, inventariam os mais fundos oceanos... porque um amor infinito, quando o é realmente, a tudo sobrevive, a cada luta se renova e fortalece, e torna-se imortal...
E afinal de contas, são as grandes batalhas, aquelas que travamos dentro do peito, que fazem avançar o mundo e a vida valer a pena.

(Para a B., porque me pediu que contasse a sua história e para todos aqueles que como eu, acreditam em histórias de amor. Mesmo nas mais improváveis.)

10 comentários:

Lídia Borges disse...

Ah!... A perfeição que os humanos tentam prender entre as mãos, desesperadamente, enquanto os deuses teimam que é privilégio só deles.
Há humanos que não acreditam e esses são... Divinos!

Uma bela história, sobretudo porque revestida de palavras tuas.

Um beijo

Carmo disse...

Improvável viver sem amor!

Abraço e boa semana

B. disse...

Quando to pedi, sabia que só tu poderias contar a minha história... e fizeste-o de modo perfeito. Pelas palavras e pelas emoções, obrigada. :)

Beijinho

Anónimo disse...

"mas se reconhece no primeiro momento, na doçura de um sorriso..." que o tempo jamais fará esquecer,vivendo-se na esperança que o acaso proporcione
um reencontro, quem sabe se numa rua que cheire a pão e sal ou em qualquer rua do mundo,para voltar a viver o instante em que o universo pára...e um sorriso basta para tudo fazer sentido..mesmos as coisas mais improváveis de o fazer...
LC

Anna disse...

Uma história a que assisto desejando muito que tenha um final feliz e que contei não porque me achasse capaz de o fazer, mas porque penso que todas as histórias de amor têm um dia que ser contadas... E sabes Lídia, às vezes os homens conseguem enganar os deuses... Como a B., que imitando Prometeu, lhes roubou o fogo com que ilumina a sua vida.

Um beijo

Anna disse...

Sim Carmo, improvável e... impossível :)

Beijinho e boa semana

Anna disse...

Obrigada B., desejo-te toda a sorte do mundo... :)

Beijo

Anna disse...

LC, por vezes as pessoas andam desencontradas, perdidas de quem não se queriam perder, caminhando às cegas em direcções contrárias, afastando-se cada vez mais... E outras vezes ainda, cada passo que dão ao acaso fá-las moverem-se, sem o saberem, em direcção daqueles que queriam encontrar... De comum entre os dois, a esperança no destino, ou na bondade dos deuses...

Um beijo

Sônia Brandão disse...

Nesses nossos dias de tantos amores que se acabam é gratificante ver a história de um amor que permanece, apesar das dificuldades. Esse é o amor verdadeiro.

Um abraço.

Anna disse...

E ainda há amores verdadeiros, Sónia. E teimosos.

Beijinho