segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Muros


Há pessoas que erguem muros. Pacientemente, pedra sobre pedra, sobem-nos até ao céu e sentem-se finalmente emparedadas... falsamente protegidas. Depois, dedicam-se a fechar todas as frestas por onde entre uma réstia de luz doirada, uma brisa matinal, o sal de uma onda fugitiva, o brilho prateado do luar... E ficam sozinhas. Os construtores de muros são seres solitários, magoados. Voltados para dentro de si, lambem as próprias feridas e empurram o vento com as mãos, o vento teimoso que lhes invade as fissuras e penetra por todos os poros... Isolam-se. Para que nunca mais ninguém os magoe, estes arquitectos da solidão refugiam-se no escuro de um poço que os arrasta para o vazio, para o buraco negro da velhice e da tristeza infinita. Apodrecem sozinhos, numa escolha consciente e determinada, porque perderam a fé nos homens e no amor, no riso e no pranto, no perder e ganhar quotidiano que nos engrandece na estrada da vida...
Mas os muros derrubam-se. Os muros caem. O muro de Berlim é prova disso. E no entanto, não é desses muros que falo, esses são frágeis e transformam-se em pó debaixo dos golpes fortes de um qualquer gesto libertador. Os muros mais difíceis de destruir são feitos de pele fria, de bocas que não conhecem sorrisos, de mãos que não se abrem num abraço, de vozes que se calam em mil silêncios, de olhos parados numa quietude baça...
Apesar de tudo... acredito que também esses podem cair. Basta querermos. Basta deixarmos.

4 comentários:

Lídia Borges disse...

Somos, cada vez mais, ilhas isoladas dentro dos nossos muros invisíveis.
E, no entanto, parece tão fácil derrubar muros...

Deixo-te um beijo

L.B.

Anna disse...

Lídia querida, acredito nas pontes... só deixo de acreditar quando mas derrubam a golpe de espada... aí desisto. Mas há sempre uma ponte possível, tenho a certeza que sim... E nenhum muro é indestrutível.
Um beijo

António Gallobar - Ensaios Poéticos disse...

Interessante, há dias escrevi sobre isto mesmo, primeiro sobre o muro de Berlim, depois sobre os muros que nos afastam do mundo e das pessoas. Parabens pelo excelente blog, muitos parabens, vou passar a seguir para poder acompanhar os seus trabalhos, muitos parabens. Adorei

Anna disse...

António, sinto-me lisonjeada com a generosidade das suas palavras. Espero ser digna delas.
Obrigada pela visita, volte sempre.

:)