quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Ela


Às vezes passa-lhe pela cabeça desistir. E é nessas alturas que dobra o medo em pedaços muito pequeninos e o esconde debaixo da pele, para ninguém ver. Mas de nada adianta. O medo agarra-se-lhe aos poros como um perfume intenso e causa-lhe vertigens, fá-la vacilar... É então que vai buscar o sorriso. É um sorriso bonito, nascido da timidez e da humildade de quem não se apercebe da luz que carrega consigo e que, no entanto, ilumina tudo em derredor... Respira fundo. E sorri. Naquele sorriso que lhe veste o rosto como uma máscara, julga esconder finalmente o medo. Sempre o medo. Mas não adianta. Um observador atento lê os gestos inseguros, o brilho inconfundível da lágrima insistente, o silêncio súbito que denuncia a ausência para um qualquer lugar distante onde ninguém a alcance... E ela não sabe. Não sabe que o medo não se mata, não se vence, não se esconde. Aprende-se a viver com ele... e é só. Por isso, quando lhe passa pela cabeça desistir, render-se ao medo, fica ainda mais frágil... o coração batendo no peito à desfilada, desejando poder voar como as aves e cruzar os céus infinitos do desassossego, até a coragem erguer novamente a voz... Os muros de silêncio que ergue à sua volta, são grades feitas do frio aço do medo que lhe amordaçam a vontade e lhe pedem para desistir.
Mas de nada serve.

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