quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ó Stora...


Hoje, a normalidade de uma das aulas foi bruscamente interrompida pelo esvoaçar aflito de um pássaro que entrou na sala por uma das janelas abertas. Imediatamente se gerou um enorme alvoroço enquanto em coro a turma dizia: Ó Stora... um passarinho...! A ave sobrevoava as cabeças a uma velocidade inimaginável e pouco depois, sentindo-se talvez aprisionada, começou a embater violentamente contra os vidros, procurando o sol, o vento, a liberdade perdida que avistava através da enganadora transparência da janela. Foi o caos. Os alunos levantavam-se, tentavam conduzi-la para a saída, levantavam os braços erguendo livros e cadernos, formavam fileiras enquanto se abriam todas as outras janelas da sala. Missão impossível: a avezinha, num esvoaçar aflito, cega no seu pânico, projectava-se contra as paredes, a porta, as janelas, sem encontrar o rumo certo. Impressionados, os miúdos imaginavam já a morte certa do passarinho, esmagado contra a parede, tombado de exaustão na aula de Língua Portuguesa... Ó Stora... e agora?...
Não sei quantos minutos durou esta epopeia mas finalmente o pássaro, tão veloz como entrara, atinou com a saída, arrastando para a janela meia turma que teimava em descobrir se ele chegaria são e salvo ao seu ninho. Suspirei. Dei-lhes uns minutos para se acalmarem e depois, claro está, foi o cabo das tormentas para regressar à matéria. Eles queriam conversar... E conversámos. Falámos de emoções... do medo, do pânico, do desespero, que tomam conta do nosso olhar e não nos permitem encontrar uma janela aberta quando vivemos um problema de difícil resolução; falámos de como é fácil perder o rumo e o norte quando nos sentimos desesperados... E eles gostaram... Gostaram muito... Eu também. E por causa do passarinho que nos invadiu a sala, esquecemos apenas por hoje Os Lusíadas e a análise do episódio lindíssimo do amor de D.Pedro e de D.Inês de Castro, esse amor único na história de Portugal, mil vezes cantado pelos poetas ao longo dos séculos, um amor tão forte e maravilhoso, que só a morte foi capaz de separar.

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