domingo, 27 de janeiro de 2013

Trono de luz e sombra


É nesse ponto
de tuas coxas
que o meu pescoço
implora a forca

Mas dás-lhe o trono
da luz da sombra
num sorvedouro
de rosas roxas

Agreste gosto
de húmida polpa
o que dissolvo
dentro da boca

Eis num renovo
mágica força
Rei me coroo
em tuas coxas

David Mourão-Ferreira, "XXII" in O Corpo Iluminado

4 comentários:

Anónimo disse...

Ó Stora!?!?!? Assim você me mata...

Num impudor de estátua ou de vencida,
coxas abertas, sem defesa... nua
ante a minha vigília, a noite, e a lua,
ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxo-azuis, em ferida,
meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu sonho, irreal, flutua
sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
enquanto o luar a numba, inerte, gasta
da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
e eu pouso a boca, religiosa e casta,
sobre a flor esmagada do seu sexo.


Cântico de José Régio

;)

Anna disse...

Caríssimo,
Tal como o de Mourão-Ferreira, uma obra prima da literatura erótica portuguesa, este poema de Régio.
Muito obrigada pela evocação e parabéns pelo bom gosto e cultura literária :)

Anónimo disse...

Ó Stora!!!! Depois do seu elogio (...bom gosto e cultura literária...) não resisto a pavonear-me mais uma vez:

Amar dentro do peito uma donzella;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Fallar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janella:

Fazel-a vir abaixo, e com cautela
Sentir abrir a porta, que murmura;
Entrar pé ante pé, e com ternura
Apertal-a nos braços casta e bella:

Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a bocca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:

Vel-a rendida emfim a Amor fecundo;
Dictoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que ha no mundo.


Soneto do Prazer Maior de Bocage (Manel Maria, para os amigos)

;)Sorriso corado...

Anna disse...

Sim, também gosto muito de Bocage...!
Obrigada pelo poema, Caríssimo :)