domingo, 20 de janeiro de 2013

Agora

 

Não penses para amanhã. Não lembres o que foi de ontem. A memória teve o seu tempo quando foi tempo de alguma coisa durar. Mas tudo hoje é tão efémero. Mesmo o que se pensa para amanhã é para já ter sido, que é o que desejamos que seja logo que for. É o tempo de Deus que não tem futuro nem passado. Foi o que dele nós escolhemos no sonho do nosso absoluto. Não penses para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora.
 
Vergílio Ferreira, in Escrever

2 comentários:

Lídia Borges disse...


Curioso. Estou a terminar "rápida, a sombra" do autor que trazes.
Farto-me de sublinhar. As evidências da efemeridade da vida e a angústia do sujeito no seu caminhar ininterrupto para o fim são marcas na obra deste autor que me tocam profundamente.

Um beijo

Saudades


Anna disse...

É um autor sublime, com textos inesquecíveis. Não me canso de o evocar e de o ler aos meus alunos, apesar de ter saídos dos programas de Português.Infelizmente, também já li tudo o que havia para ler... e agora releio, sempre que posso.
Boas leituras, Lídia :)

Deixo-te o meu beijo.