segunda-feira, 6 de julho de 2009

Dar Voz à Poesia






O concurso apeteceu-me desde o instante em que os meus olhos tropeçaram no panfleto abandonado por mãos distraídas na mesa da sala dos professores... Tinha cores atractivas e o título chamativo soou-me a um convite irrecusável, imperioso até. Durante algum tempo, afastava a ideia que, incómoda como um frio estranho, voltava vezes sem conta. Dei por mim a colocar a hipótese amiúde: Talvez possa... E se...? Porque não...? Adiei até ao fim, queimei o prazo de entrega, mas concorri. Era só um concurso de poesia, o primeiro a que me atrevi... e surpreendentemente, confesso, ganhei o primeiro prémio.
O poema Um punhado de palavras não nasceu propositadamente para este concurso, já existia há alguns meses e eu gostava muito dele porque me espelha a alma e o sentir. Agora, depois de o ter lido em voz alta para uma plateia que me avaliava, gosto ainda mais de todas as palavras que lhe dão corpo. Hoje posso finalmente divulgá-lo, partilhar com todos os que por aqui passam e se demoram na minha voz, este prémio que me deixou surpresa, honrada e orgulhosa. Aqui fica o meu punhado de palavras, o poema vencedor da XIII Edição do Concurso Literário "Dar Voz à Poesia". Agora também é vosso.
Com muito carinho.

Trago um punhado de palavras
guardadas nas mãos em concha.
Encontrei-as nos livros, ditas pelos poetas...
Li-as nas estrelas... Emprestaram-mas os deuses...
Roubei-as à tua boca.
São palavras brilhantes, luminosas,
palavras de riso claro,
sussurradas ao ouvido no instante do abraço,
palavras ardentes, soltas
no beijo dado com a urgência da saudade.
São palavras perfumadas,
cheiram a eucalipto orvalhado pela manhã,
cheiram a velas queimadas em dia de aniversário,
cheiram a terra molhada
e a relva acabada de cortar...
São palavras musicais, como um espanta-espíritos
em dança vadia com o vento ao cair da tarde...
Foram escritas na areia da praia,
sobrevivendo aos vendavais
e aos pés descalços dos caminhantes,
à fúria das gaivotas e ao abraço salgado
das ondas inconstantes...
São fortes e indeléveis.
São eternas as minhas palavras.

E quando às vezes me engano na estrada
ou me perco nos caminhos,
quando sinto os passos cansados ou inseguros,
sento-me na berma e olho-as de frente,
tatuadas na pele gasta das mãos calejadas...

Leio-as muitas e muitas vezes...

Repito-as baixinho...
E passa-me o frio cá dentro.

Ana Paula Mateus, Um punhado de palavras

8 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns Ana Paula. Mereces e muito este prémio. Que te sirva de motivação para outros projectos.
Beijinho

CA disse...

Gostei muito do poema, tanto que tomei a liberdade de juntá-lo ao punhado de palavras/poemas que vou reunindo no meu blogue (http://duvidavidando.blogspot.com/2009/07/poema-um-punhado-de-palavras-ana-paula.html).

Parabéns pelo poema e pelo prémio.

Anna disse...

Alquimista, obrigada pela simpatia das tuas palavras.
:)

Carlos Afonso,sinto-me honrada pelo destaque dado às minhas palavras no seu espaço. Obrigada.
:)

sentidos de coimbra disse...

Paulinha,

Agora que toquei no punhado perfeito das tuas palavras, renovo aqui, os meus mais sinceros parabéns!

Beijinhos
cristina torres

Henrique disse...

Muitos parabéns!!!!!!!!
É um prémio justo e merecido porque tu escreves que é uma delícia... Aposto que mais prémios virão.
Beijinho

Anna disse...

Obrigada, Cris.
Um beijinho

Henrique, obrigada.
:)

Afonso Corvo disse...

muitos parabéns pelo prémio. fui o vencedor do grupo c na edição anterior e este ano fiquei pelo sgundo lugar. se me quiseres adicionar, dna@live.com.pt

Anna disse...

Muitos parabéns Daniel.