Cansada de correr às cegas
pelos labirintos da memória,
ousei abrir finalmente
a última porta.
Empurrei-a de mansinho,
temendo estilhaçar o silêncio
ou quebrar os restos de mágoa
naquele dédalo de brumas...
E num revoluto de mil asas,
na espiral de um voo cego,
esbofetearam-me o rosto
os aromas, as cores, os sons e os nomes
de recordações longínquas
que julgava enterradas, esquecidas...
Estavam de pé, os meus fantasmas...
viviam ainda, empoeirados, bolorentos,
aguardavam a minha chegada
ao som de melodias suaves
que afinal, ainda sei tanger de cor...
Ficámos parados,
os corações disparados,
os corpos num tumulto,
olhando-nos de frente,
olhando-nos bem fundo...
E sorrimos... E apaziguei-me...
Reconciliada com a perda,
virei as costas à inquietude
e regressei a mim
pelos corredores iluminados já,
rasgando janelas de sol
abrindo gaiolas ferrugentas
soltando para sempre
as negras aves da tristeza...
Às vezes, algumas vezes...
precisamos de exorcizar fantasmas
e encarar os profundos abismos
para deixar que a alma
se encha novamente de luz
e conseguirmos regressar a nós...
1 comentário:
Esperança.
É a imagem que se difunde quando a paz habita no homem.
beijinho
cris
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