quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Abismos


Cansada de correr às cegas
pelos labirintos da memória,
ousei abrir finalmente
a última porta.

Empurrei-a de mansinho,
temendo estilhaçar o silêncio
ou quebrar os restos de mágoa
naquele dédalo de brumas...

E num revoluto de mil asas,
na espiral de um voo cego,
esbofetearam-me o rosto
os aromas, as cores, os sons e os nomes
de recordações longínquas
que julgava enterradas, esquecidas...

Estavam de pé, os meus fantasmas...
viviam ainda, empoeirados, bolorentos,
aguardavam a minha chegada
ao som de melodias suaves
que afinal, ainda sei tanger de cor...

Ficámos parados,
os corações disparados,
os corpos num tumulto,
olhando-nos de frente,
olhando-nos bem fundo...

E sorrimos... E apaziguei-me...
Reconciliada com a perda,
virei as costas à inquietude
e regressei a mim
pelos corredores iluminados já,
rasgando janelas de sol
abrindo gaiolas ferrugentas
soltando para sempre
as negras aves da tristeza...

Às vezes, algumas vezes...
precisamos de exorcizar fantasmas
e encarar os profundos abismos
para deixar que a alma
se encha novamente de luz
e conseguirmos regressar a nós...

1 comentário:

sentidos de coimbra disse...

Esperança.
É a imagem que se difunde quando a paz habita no homem.

beijinho
cris