quarta-feira, 16 de julho de 2008

Palavras doídas


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.

(...)

Vejo tudo com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado -,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!

(...)

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos, Aniversário (Texto com supressões)

2 comentários:

sentidos de coimbra disse...

Hoje, apetece-me dar-te carinho!Tanto!!!


Parabéns Paulinha!

Beijinhos cris

Anónimo disse...

Pára cabeça!!!!! deixa o coração sossegado. De tanto pensar podes fazer o coração sentir coisas erradas e estragar tanta coisa boa...