terça-feira, 6 de novembro de 2007

Tempus Fugit

Inexorável, o tempo fita-nos com os seus olhos trocistas, enormes cavernas vazias onde nos perdemos à procura dos segundos.Em nome do tempo, quantas barbaridades cometemos diariamente!:corremos, perseguimos os minutos na ânsia de os vencer; marcamos, desmarcamos, remarcamos, alteramos, substituimos a vida para caber nas horas, nos dias; voamos na estrada, aceleramos em casa, no trabalho, na rua, atrasamos as chegadas e as partidas quotidianas; alargamos os prazos, dilatamos as datas, na esperança de podermos cumprir; pedimos mais tempo, só mais um pouco, para não falharmos; retardamos os momentos de descanso... e vamos, assim, escorregando inevitavelmente nas garras do tempo, tentando matá-lo, sem nos lembrarmos que ele nos vai matando, a cada pulsar dos ponteiros desdenhosos.
Quão difícil é de gerir! Sem outra escolha, vamos deixando coisas para fazer amanhã, um dia, no fim de semana, nas férias, quando os miúdos crescerem, quando houver tempo... numa outra vida...Vivemos perseguidos pelo relógio, vacilamos sempre perante esse adversário terrífico, tão temido pelos maus gestores, fatalmente reconhecido como invicto.Na realidade não há tempo, nunca houve, para os que amamos, para os que queremos, para os que precisam de nós, para os que nos esperam, apesar de tudo. Não há tempo para o amor, para a paixão, para a entrega, para a partilha, para a procura da felicidade... E sem tempo nos dias, arrastamo-nos nas noites, roubando tempo, julgando ganhar a vida. Mas, ganharemos?
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Estou atrasada... detesto chegar atrasada! Acelero o carro mas infelizmente há um mar de trânsito, é hora de ponta e a cidade enlouquecida corre toda, ao mesmo tempo, para todos os lugares...Impossível fugir... estou encurralada.
Desisto. Ponho o carro em ponto morto, puxo o travão de mão e aguardo tranquilamente o escoamento do rio metálico, enquanto ponho o som do rádio mais alto. Muito doce, a voz da Mafalda Veiga lembra-me a única verdade: "A vida não pára... a vida é tão rara!"
Encosto-me no banco, fecho os olhos e inspiro profundamente. Deixo que os pulmões se encham de ar e depois solto-o devagar, muito devagar, bem devagarinho...

1 comentário:

Anónimo disse...

O tempo é um bem escasso, cabendo-nos a nós, gestores da nossa própria vida, utilizá-lo racionalmente de modo a satisfazer as necessidades mais (ou menos) importantes.