domingo, 4 de novembro de 2007

Palavras sussurradas

Primeiro a tua mão sobre o meu seio.
Depois o pé - o meu - sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.

É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.

O corpo roda:quer mais pele, mais quente.
A boca exige:quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.

Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
somos a maré alta de quem ama.

Por fim o sono calmo, que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansado no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio.

Rosa Lobato de Faria, Poemas Escolhidos e Dispersos

1 comentário:

Parapeito disse...

E que mais se pode desejar depois de tanto?
Só mesmo adormecer assim : ...o meu pé descansado no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio...

Belo!!