Depois o pé - o meu - sobre o teu pé.
Logo o roçar urgente do joelho
e o ventre mais à frente na maré.
É a onda do ombro que se instala.
É a linha do dorso que se inscreve.
A mão agora impõe, já não embala
mas o beijo é carícia, de tão leve.
O corpo roda:quer mais pele, mais quente.
A boca exige:quer mais sal, mais morno.
Já não há gesto que se não invente,
ímpeto que não ache um abandono.
Então já a maré subiu de vez.
É todo o mar que inunda a nossa cama.
Afogados de amor e de nudez
somos a maré alta de quem ama.
Por fim o sono calmo, que não é
senão ternura, intimidade, enleio:
o meu pé descansado no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio.
Rosa Lobato de Faria, Poemas Escolhidos e Dispersos
1 comentário:
E que mais se pode desejar depois de tanto?
Só mesmo adormecer assim : ...o meu pé descansado no teu pé,
a tua mão dormindo no meu seio...
Belo!!
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