sábado, 7 de fevereiro de 2015

(...)


Espalho pelas manhãs a palavra que não sei dizer. Vejo-a adejar no ar claro - majestoso bailado debaixo do sol - e tombar, quebrada aos pés do frio vento norte que lhe despreza as asas. Ali fica, desamparada no chão, embrulhada no seu desalento, vítima moribunda dos meus lábios selados. 
A queimar-me ainda. 
Tão só, a palavra que eu não sei dizer. 
A rasgar-me o peito, a palavra que eu não posso dizer. 

17 comentários:

Mar Arável disse...

Tudo belo sem palavras

Bj

Lídia Borges disse...


Como Clarice Lispector:

«Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo, porque eu mesma não posso»

Beijo meu

Anónimo disse...

Bom dia?

Mar Arável disse...

Um sopro a pestanejar nos olhos

Manuel Veiga disse...

essas as palavras que permanecem - as que rasgam o peito.

beijo

Shirley Brunelli disse...

Anna, pense na função do martelo e do prego...Um bate e o outro aceita. Chega o dia em que precisamos trocar de lugar e ser o martelo... Temos que aprender a bater...aprender a falar...
Beijo e muita luz!

Anna disse...

Grata pela poesia, Eufrázio :)

Anna disse...

O que eu gosto da Clarice, Lídia...!

Beijo :)

Anna disse...

"Bom dia" são duas palavras. Que eu lhe ofereço, visitante sem nome...
:)

Anna disse...

As palavras que rasgam o peito são as que nos fazem renascer...
Grata, Herético :)

Anna disse...

Shirley, acho que nunca saberei "bater"...

Obrigada pela visita e pelas palavras :)

Beijo

Anónimo disse...

Eu nem sou mau com as palavras. O meu mal é a matemática...

:)Visitante sem Nome

Anna disse...

Eu sou má com as palavras. E com a Matemática.
:)

Anónimo disse...

Anna...
Falsa modéstia...

Ok,admitamos que seja má com as palavras. É no entanto sublime com os afectos. E isso basta-nos.

Desculpe-me a ousadia de vestir a pele de porta voz de todos quantos a lêem.

Respeitosos cumprimentos

Anna disse...

Pesada responsabilidade essa, a de ser a voz dos navegantes silenciosos que me visitam... Receio uma insurreição nas próximas horas... Temo por si... :)

(Muito obrigada!)

Gustavo disse...

Anseio secretamente por uma insurreição, seja ela qual for, a Anna merece-a, por "ser sublime com os afectos". :)

Em relação às palavras que "rasgam o peito", não serão elas por si sussurradas aqui no DE PROFUNDIS, como se desabafasse connosco, como se nos falasse da sua solidão (ao estilo da letra do Jorge Palma) ?
Lá está, mais uma razão para uma "insurreição"!!! :)

Deixo-lhe um abraço (as palavras que teimam em ferir o peito também se esfumam muitas vezes por entre abraços).

Anna disse...

Gustavo,
Grata pelo seu comentário :)
Acredite que as palavras que aqui vou sussurrando são apenas inquietudes de dias órfãos de claridade... Nem sequer merecedoras de uma insurreição.

Abraço retribuído :)