Espalho pelas manhãs a palavra que não sei dizer. Vejo-a adejar no ar claro - majestoso bailado debaixo do sol - e tombar, quebrada aos pés do frio vento norte que lhe despreza as asas. Ali fica, desamparada no chão, embrulhada no seu desalento, vítima moribunda dos meus lábios selados.
A queimar-me ainda.
Tão só, a palavra que eu não sei dizer.
A rasgar-me o peito, a palavra que eu não posso dizer.
17 comentários:
Tudo belo sem palavras
Bj
Como Clarice Lispector:
«Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo, porque eu mesma não posso»
Beijo meu
Bom dia?
Um sopro a pestanejar nos olhos
essas as palavras que permanecem - as que rasgam o peito.
beijo
Anna, pense na função do martelo e do prego...Um bate e o outro aceita. Chega o dia em que precisamos trocar de lugar e ser o martelo... Temos que aprender a bater...aprender a falar...
Beijo e muita luz!
Grata pela poesia, Eufrázio :)
O que eu gosto da Clarice, Lídia...!
Beijo :)
"Bom dia" são duas palavras. Que eu lhe ofereço, visitante sem nome...
:)
As palavras que rasgam o peito são as que nos fazem renascer...
Grata, Herético :)
Shirley, acho que nunca saberei "bater"...
Obrigada pela visita e pelas palavras :)
Beijo
Eu nem sou mau com as palavras. O meu mal é a matemática...
:)Visitante sem Nome
Eu sou má com as palavras. E com a Matemática.
:)
Anna...
Falsa modéstia...
Ok,admitamos que seja má com as palavras. É no entanto sublime com os afectos. E isso basta-nos.
Desculpe-me a ousadia de vestir a pele de porta voz de todos quantos a lêem.
Respeitosos cumprimentos
Pesada responsabilidade essa, a de ser a voz dos navegantes silenciosos que me visitam... Receio uma insurreição nas próximas horas... Temo por si... :)
(Muito obrigada!)
Anseio secretamente por uma insurreição, seja ela qual for, a Anna merece-a, por "ser sublime com os afectos". :)
Em relação às palavras que "rasgam o peito", não serão elas por si sussurradas aqui no DE PROFUNDIS, como se desabafasse connosco, como se nos falasse da sua solidão (ao estilo da letra do Jorge Palma) ?
Lá está, mais uma razão para uma "insurreição"!!! :)
Deixo-lhe um abraço (as palavras que teimam em ferir o peito também se esfumam muitas vezes por entre abraços).
Gustavo,
Grata pelo seu comentário :)
Acredite que as palavras que aqui vou sussurrando são apenas inquietudes de dias órfãos de claridade... Nem sequer merecedoras de uma insurreição.
Abraço retribuído :)
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