quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O canto dos poetas


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
 
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Cecília Meireles, in Obra Poética

4 comentários:

Mar Arável disse...

Mesmo no silêncio

cantaremos

Anónimo disse...

O poeta tenta ficar longe da poesia que o chama. E logo entra em desespero. Não esconda as palavras do poeta. Por favor, não.

Anna disse...

Mesmo assim, Eufrázio.

Um beijo

Anna disse...

As palavras dos poetas, silêncio algum consegue esconder... Por isso o seu canto é imortal.