

Tento não pensar. No que este dia significa para mim, no quanto é importante que tudo corra bem, que tudo corra como eu sonhei... Afasto as ideias que se aninham naquele cantinho do coração onde a responsabilidade pesa mais, não páro um só segundo, numa correria louca que me enche todos os minutos do dia. E ando feliz. Tudo foi escolhido ao mais ínfimo pormenor, não quero falhar, não quero desapontar o mar de amigos que sei se fará presente. Mas de repente, a insegurança, a transformar o chão que piso numa corda bamba colocada lá no cimo, nas alturas... É simples... Será uma noite única, uma noite mágica, e não quero deixar nada por dizer... E por isso, de repente o vestido não se ajusta às formas do meu corpo e a cor não favorece o tom da minha pele, os sapatos apertam-me os pés e não condizem com a mala, não consigo encontrar a cor exacta do verniz, os brincos não são tão bonitos como julgava, e a pulseira, que eu queria que se mantivesse presa no braço, escorrega até ao pulso num tilintar irritante... De repente está tudo errado, as palavras que quero dizer não são bem aquelas, o tom está emotivo demais, a voz vai falhar e as lágrimas cairão, sim, que eu bem sei... De repente, sou um poço de insegurança... Mas de repente também, chovem os e-mails, os telefonemas, as mensagens, os amigos fazem-se presentes e acarinham-me, e dizem que eu sou capaz... E de novo o sorriso... E a calma. Vai correr tudo bem, vai ser uma noite inesquecível no Diana Bar da minha cidade tão bonita... Uma noite em que por algumas horas, a Póvoa de Varzim será uma cidade que me abraça. Mas por agora, tento não pensar.