terça-feira, 4 de agosto de 2009

A frio


Peguei no coração com cuidado e despi-o de todos os sonhos. Observei-o atentamente, demorei-me em cada nódoa de tristeza, nas cicatrizes de dor, nos fundos rasgões da saudade. Depois, lavei-o com a água dos meus olhos, esfreguei-o demoradamente com o áspero sal de todas as lágrimas e pu-lo a secar nas infinitas varandas da solidão. Batia-lhe o sol de mansinho, aquecendo-o de vida e força e coragem, e deixei-o ficar... num tímido pulsar, suavemente batido pelos ventos da mudança. Recolhi-o mais tarde, já seco e limpo, o meu coração...
Lavado a frio, agora está pronto para outras guerras, para mais batalhas onde de novo se ferirá... e voltará a ganhar vida, carregado de sonhos como na Primavera as árvores explodindo em flor, anunciam orgulhosas ao mundo os frutos saborosos que mãos humanas colherão... ou que ficarão apenas caídos por terra, sujeitos aos passos distraídos dos caminhantes que sem os notarem, farão deles chão para continuar viagem.

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