segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Outono em mim


Ao longo do dia, enquanto sumariava e numerava as lições, não conseguia evitar o olhar desdenhoso do calendário que me atirava a data, impiedosamente. Hoje chegou o Outono. Custa-me sempre transpor esta barreira nos dias, nas horas, no tempo. Talvez porque a minha alma, de um claro e límpido azul de mar e céu sem nuvens, não se dê bem com as cores outonais. Pesa-me o acastanhado triste dos dias que se vão tornando tão curtos, enjoa-me o cheiro a chuva e frio que hoje abafava a cidade, sufoca-me a falta de luz que torna tudo tão triste, tão opaco... Nesta altura, custa-me ter de deixar de sentir o roçagar do vento na pele nua dos braços... e talvez o frio que sinta seja mais cá dentro, deslizando em mim, do que no ar que respiro.
Suspiro resignada porque esta é uma revolta inglória. O Outono aí está, nos pés molhados, no escuro dos dias, no arrepio das manhãs tímidas, na hora que em breve mudará... Mas não consigo deixar de sentir isto, esta espécie de tristeza envolvente que me cala a voz e me deixa mais parada, mais lenta, me enche de uma melancolia pesada em tons de Outono, de uma nostalgia líquida, que escorre dentro de mim como lá fora a chuva na vidraça.

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu gosto tanto do Outono!

beijoca grande