sábado, 27 de fevereiro de 2016

Sebastião


Era o mais pequenino da ninhada. O mais frágil. O mais feio. Quando os fui ver, os irmãos correram para mim numa alegria felina, queriam-me o colo, os afagos, encheram a sala de miados ruidosos. E ele ficou encostado no canto em que estava, fitando-me de longe com os seus olhos de mar, estrábicos, mas límpidos. O mais feioso, o mais pequeno, o mais triste dos gatinhos, aquele que ninguém escolheria, - suponho eu -, foi o que eu trouxe para viver connosco. Chamei-lhe Sebastião, mas para nós acabou por ficar apenas Sebi.
Era um gato doce e meigo como nunca soube de nenhum. Conhecia-me os humores, adivinhava-me os medos, consolava-me as lágrimas deitando-se ao meu lado, só ronronando e olhando-me com os seus olhos de mar. Talvez por isso, dei o nome dele ao gato do protagonista do meu livro - de certo modo, queria eternizar num livro uma criaturinha que amei tanto, que me amou - incondicionalmente - tanto.
Hoje, o meu Sebastião soube que dezasseis anos era uma vida longa, muito longa para um gato, e decidiu partir. Estava ao meu colo quando o coração deixou de bater e não me ofereceu o azul líquido dos seus olhos... Talvez porque ele soubesse, tão bem como eu, que às vezes o mar escurece, desiste do azul, se cobre de negro, de luto, de infinita tristeza...
Como os corações humanos. 

4 comentários:

Mariana disse...

:-( beijinho professora!

Anna disse...

Mariana, o seu beijinho foi um conforto gigante...!Obrigada, minha querida :)

Saudades, muitas saudades.

Majo disse...

~~~
Abraço solidário, Anna.
~~~~~~~~~~~~~~~~~

Anna disse...

Obrigada, querida Majo :)
Recebido e retribuído...!