quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Em nome do Amor


Amor desta tarde que arrefeceu
as mãos e os olhos que te dei;
amor exacto, vivo, desenhado
a fogo, onde eu próprio me queimei;

amor que me destrói e destruiu
a fria arquitectura desta tarde
– só a ti canto, que nem eu já sei
outra forma de ser e de encontrar-me.

Só a ti canto que não há razão
para que o frio que me queima os olhos
me trespasse e me suba ao coração;

só a ti canto, que não há desastre
de onde não possa ainda erguer-me
para encontrar de novo a tua face. 


Eugénio de Andrade, "Soneto" in Os Amantes Sem Dinheiro

4 comentários:

Mar Arável disse...

O nosso Eugénio

sempre na mesa de cabeceira
Bj

Anna disse...

Sempre!

Beijo :)

AC disse...

Anna,
Apresente produção própria ou de ilustres convidados, o De Profundis é sempre garante de enorme qualidade. Obrigado.

Um beijinho :)

Anna disse...

Obrigada, AC. Palavras que me deixam imensamente grata, vindas de alguém cuja escrita tanto admiro!


Um beijo