domingo, 19 de janeiro de 2014

Na raiz da terra

 
Quando fiz oito anos, a minha avó paterna ofereceu-me um lenço de seda num tom suavíssimo, cor de rosa seco. Seria um presente banal não fosse a pintura, feita com as suas próprias mãos, de um ramo de flores silvestres, num dos cantos do tecido, que aos meus olhos de criança pareceu uma explosão de cor, ou um grito de alegria, a festejar o meu aniversário... Lembro-me de ter ficado muito tempo a olhá-lo e de ter passado os meus dedos pequeninos sobre a aspereza da tinta, com muito cuidado, receosa de que tudo aquilo desaparecesse ou se manchasse por culpa minha. A minha avó sorriu e ensinou-me o nome das flores que pintara - botões de ouro, violetas, narcisos, tulipas bravas e miosótis. A inspiração viera-lhe num dos habituais passeios domingueiros a Macedo de Cavaleiros, terra que ela adorava e onde ia frequentemente visitar amigos e familiares. Talvez por isto, Macedo foi sempre uma terra que desejei conhecer, um daqueles destinos onde cedo decidimos que havemos de ir, mas que por circunstâncias da vida vamos adiando sine die...
No próximo domingo, um evento literário, promovido pela Poética Edições, levar-me-á finalmente a Macedo de Cavaleiros, uma cidade aninhada entre rios, montanhas e xistos verdes, o que prova talvez que o que nos pertence acaba por vir ter connosco... A apresentação do livro Sementes Daqui, de Lídia Borges, e uma Tertúlia informal, à roda das palavras, serão o mote para eu tentar encontrar as flores silvestres eternizadas na seda de um lenço, pelas mãos da avó Olímpia. Falar-se-á de sementes. E de raízes. Apesar do frio, apesar da distância, se puder, venha conversar connosco.

10 comentários:

Anónimo disse...

Se é de seda, de poesia e sementes que fala, irei!
Desde a minha infância que tinha esta viagem adiada.
Sou discreto, não vai dar por mim.
Eduardo.

Lídia Borges disse...


Eu vou! E sei onde encontrar as flores silvestres de que falas. Se não na Natureza, nesta época, no coração das pessoas, de certeza...

Lindo o teu texto. E saber que vais pela minha mão ainda o torna mais especial.;)

Um beijo

ORPHEU disse...

Se eu estivesse em Portugal não haveria longe nem distância que me impedisse de estar em Macedo no próximo domingo.
Que tudo corra bem, boa sorte!

Anna disse...

Eduardo,
Porque haveria de ser discreto? O convite é para que participem na conversa... É muito bem vindo, esperamos por si :)

Anna disse...

Em Trás-os-Montes Lídia, o coração das pessoas é especial... Vai ser um domingo inesquecível, tenho a certeza!

Beijos, até lá :)

Anna disse...

Ohhhh...! OBRIGADA ORPHEU!
Um beijo aí para Angola :)

deep disse...

É certo que nos encontraremos. :)
Boa viagem até Trás-os-Montes.

Anna disse...

:)
Obrigada, Deep.

Até lá! :)

Anónimo disse...

Bom dia, terei que adiar as palavras, porque não vai ser possível comparecer.
Mas deixo-lhe algum "calor".

"Elejo a palavra "calor"
para te lembrar
agora com rimas renascidas
que o nosso velho dizer
subitamente se pôs a florir
claridades novas.

Não mais te pedirei a perfeição
ou coisas muito sérias
graves, grandiosas...
Não mais esperarei que saibas
a cor dos meus pensamentos
em cada volta do vento.
Que desmontes mitos
desvendes mistérios
expliques o inexplicável.

Aprenderei a esperar de ti
somente a poesia do tocável
a poesia que germina ainda, generosa
por indefiníveis veredas onde nos sabemos(sempre)
um com o outro."

Página 51 Sementes Daqui - Lídia Borges

Eduardo

Anna disse...

Obrigada Eduardo. Quem sabe um dia, nas voltas que o mundo dá...

Bom domingo :)