sábado, 21 de setembro de 2013

Sábado

Petrificada no muro quente, a lagartixa permanece imóvel ao sol, como se ali pertencesse desde o início de todos os tempos e nos canteiros que ladeiam a casa, a terra, muito seca, tem sulcos abertos, profundos, como cicatrizes de feridas antigas... Procuro os caracóis que deixaram um rasto brilhante no pé das roseiras e nas folhas das hortências e revolvo a terra para arrancar pela raiz as ervas daninhas... Há uma música a tocar algures, ao longe, no fundo da rua. É tão bela... Há tanto tempo que não a ouvia... Sei-a de cor e canto-a baixinho enquanto corto com cuidado os ramos mortos da buganvília que explodiu este ano numa mancha de cor lacre... Afasto os cabelos da testa molhada de suor e varro sem pressas as folhas queimadas... No ar há um cheiro que conheço bem e ergo o rosto para o céu limpo de nuvens, com os olhos fechados... Concentro-me no zunido infinito das abelhas, no ressonar preguiçoso dos cães e nos acordes alegres do canto maravilhoso das aves... É sábado... Sorrio... Nenhuma inquietude me arranha as portas fechadas do coração, hoje serenamente seladas com uma braçada de flores. 

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