domingo, 22 de setembro de 2013

OUTONO


É outono, desprende-te de mim.

Solta-me os cabelos, potros indomáveis
sem nenhuma melancolia,
sem encontros marcados,
sem cartas a responder.

Deixa-me o braço direito,
o mais ardente dos meus braços,
o mais azul,
o mais feito para voar.

Devolve-me o rosto de um verão
Sem a febre de tantos lábios,
Sem nenhum rumor de lágrimas
Nas pálpebras acesas.

Deixa-me só, vegetal e só,
correndo como rio de folhas
para a noite onde a mais bela aventura
se escreve exactamente sem nenhuma letra.

Eugénio de Andrade, in Obra Poética

2 comentários:

Lídia Borges disse...


Um bálsamo, hoje, que todas as folhas de verão querem partir.


Saudade!

Anna disse...

Saudade, Lídia... Tanta!!!

Um beijo