sábado, 16 de junho de 2012

Esqueci-me disto...


Memento mori é um adágio latino que significa "Lembra-te que és mortal" ou apenas "Lembra-te da morte". A frase, em letras barrocas e a negrito, situava-me na minha pequenez, um grão de poeira na grandeza do universo... Esquecemo-nos disto tantas vezes, da nossa insignificância no mundo, do quanto a nossa perda nada altera o correr dos dias, as voltas que o mundo dá. Achamo-nos gigantes e donos do mundo, nada tememos e em tudo acreditamos, tudo julgamos possível quando temos a força do amor. E no entanto morremos tantas vezes! Caímos no chão como aves abatidas em pleno voo, como peixes sufocados fora de água ou frágeis mariposas esmagadas nas paredes da vida por um murro certeiro... Há dias em que nos matam as palavras ou a falta delas, os gestos falsos e a lâmina de uma mentira... Há dias em que morremos, tombados como árvores depois do vendaval e ninguém vê, a ninguém importa a nossa dor ou a nossa morte...
Também hoje eu morri, como morro tantas vezes... Deram-me um tiro no coração, um só, a sangue frio e à queima roupa. Mas o que se despedaçou em mim e nos meus sonhos que sangram ainda, esvaziou-me de vida e de força, atirou-me para a berma da estrada da vida. E pela primeira vez, não quero que nenhum caminhante me veja, escondo-me nas sombras da noite e no pó do chão, no silêncio da terra manchada de sangue, do meu sangue...  
Memento moris... A culpa é minha, esqueci-me disto... Julguei-me grande e imortal, pensei-me gigante... eu, apenas um pardal ferido de morte, com as asas cortadas, a esvair-se dos sonhos na berma dos caminhos...

3 comentários:

Lídia Borges disse...

Lembrei-me de Álvaro de Campos:

"Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!

Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...

Sem ti correrá tudo sem ti.

Talvez seja pior para outros existires que matares-te...

Talvez peses mais durando, que deixando de durar...



A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado

De que te chorem?

Descansa: pouco te chorarão...

O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,

Quando não são de coisas nossas,

Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,

Porque é a coisa depois da qual nada acontece aos outros..."

Lembrei-me,só! Mas sabemos que é sempre possível renascer das cinzas e fazer das fragilidades forças... Não sabemos?

Beijo meu

Isa Lisboa disse...

Morremos muitas vezes, sim. Mas somos fénix também. E por isso, hás-de renascer, com uma força nova, que vem daquilo que ensina mais um degrau difícil de transpor.
Beijos!

Mar Arável disse...

Estamos sempre
a desnascer

e a renovar-nos