quinta-feira, 2 de abril de 2009

Calma


Erradamente, adiamos os afectos. Achamos sempre que eles esperam por nós, enquanto nos desdobramos no trânsito, saltamos refeições, corremos desenfreadamente ao toque da campainha, perdemos o sono, irremediavelmente anulado pelo cansaço e trabalhamos noite dentro até nos arderem os olhos e doerem os ossos, até perdermos a lucidez... Adiamos o inadiável... e entregamo-nos à partilha dos afectos quando já nada mais falta riscar na lista de prioridades. Corremos diariamente para todos os lados atrás de coisa nenhuma, desgastamos a voz em urgências mil... Porque tem que ser assim. Porque a vida é assim.
As últimas semanas foram assim.
Agora pouso as armas, dispo as roupagens de guerra, respiro fundo e abro a porta à calma. Deixo-a entrar devagarinho, silenciosamente, deixando pegadas de luz pelo caminho. É tempo de colo, de ninho, de olhar em volta e abraçar as emoções... É tempo de viver sem olhar para o tempo... É tempo de amar, de corpo e alma, sem contar o tempo.
Porque às vezes todos precisamos de acreditar, nem que seja por breves momentos, que não existe o tempo.

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