segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Cá dentro


Sacode o pó da roupa,
limpa essa dor que te escorre em fio,
lambe as tuas feridas
e levanta-te.
Caíste, sim, e depois?
Podes ainda levantar-te,
respirar fundo,
encher o peito do ar da esperança
e continuar a caminhada.
Tu não vês?
Se continuares tombado,
outros, que caminham no teu encalço,
te calcarão sem te ver,
te esmagarão com o eco dos passos,
te aniquilarão ao primeiro dormitar...
Se não limpares essas lágrimas,
não poderás ver o céu tão azul,
o sol que arde e as estrelas que fulgem gigantescas.
Dói-te o peito e isso que importa?
Ainda podes andar em frente...
Não deixes que os abutres
se debrucem sobre ti,
façam cerco à volta do teu corpo desmaiado
e te cravem as garras na carne desistente.
Não deixes, levanta-te.
E nem sequer precisas de alguém,
não precisas de cajados podres,
de muletas corroídas
que te farão derrubar novamente.
Dói-te, eu sei, e então?
Agarra as dores que são tuas
e limpa a névoa do olhar.
Estás profundamente só. E depois?
Renasce mais uma vez,
expulsa a piedade, a comiseração,
o sorriso dos lábios
dos que te veêm caído
e levanta-te.
Por ti. Verás que consegues.
E quando de pé olhares em volta,
verás outros feridos,
outros resistentes expondo cicatrizes
e caminhando a teu lado.
Porque até terminar a estrada,
ainda existe caminho,
ainda és caminhante.

1 comentário:

Nilson Barcelli disse...

Percorri algumas páginas do teu blog e não vi muita poesia feita por ti.
O que é pena, pois a julgar por este poema tens imenso talento.
Gostei mesmo muito.
Beijos.