quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Às vezes aqui faz frio


Contar-te que a chuva parou, e deixou o chão da cidade submerso num brilho escorregadio... Parou de mansinho, no entardecer quieto e quase frio deste outono já encostado ao fim dos dias, cada vez mais breves. Contar-te que a luz rasgada do sol poente - o último raio de sol - rompeu a medo os céus escuros e chegou dourada, numa maciez que trouxe de volta os pássaros. Contar-te nadas, pequenos nadas, - como tu dizias. Como terias repetido, se eu te tivesse telefonado só para te contar a morte da chuva. E terias rido, e terias perguntado se eu me tinha molhado, se tinha andado à chuva como uma miúda irresponsável... 
Ainda não apaguei o teu número de telefone. Continuo a querer contar-te: os pequenos nadas. A chuva miudinha, fria, batida pelo vento norte - que me encharcou até aos ossos, que me gelou a pele e me entrou no coração... Uma chuva igual, tão igual, igualzinha à do dia em que morreste... 
E é sempre esta chuva fria e triste que me faz regressar a ti, nos dias em que não sei de mim.

3 comentários:

Majo disse...

~~~
~~ Muito sentido, muito belo! ~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

~~~ Beijinhos, Anna. ~~~
~ ~ ~ ~

Anna disse...

Beijinhos, Majo :)

Lídia Borges disse...


Abraço.

Amanhã é outro dia!

Lídia