sábado, 21 de junho de 2014

Verão


Lembro-me das gargalhadas e das cócegas na planta dos pés quando chegávamos à praia, tirávamos as sandálias e caminhávamos pela primeira vez sobre a areia. Eu levava um saco grande cheio de baldes, pás, forminhas, a toalha e o fato de banho para mudar depois do banho... Tu levavas as sandes de tulicreme e a fruta descascada e cortada aos pedacinhos, no tupperware verde que ainda hoje guardo, apesar de partido... Entrançavas-me o cabelo e fazias-me as recomendações do costume, antes de me deixares partir em loucas correrias que sabiam a pura felicidade (Não tires o chapéu e não vás para o mar, olha as horas da digestão... E não saias da minha vista!). Era um dia diferente de todos os outros, a praia com poucas barracas oferecia ainda silêncios que permitiam, quando fechávamos os olhos, ouvir o marulhar das ondas... Eu procurava beijinhos, construía castelos e cobria as pernas com algas, num desejo secreto e inconfessável de me transmutar em sereia...
Na hora de partir, quando o vento norte se fazia mais frio, embrulhavas-me numa toalha e aquecias-me o corpo que tremia enquanto tentavas domar as tranças desfeitas, enodoadas de sal. Sentávamo-nos abraçadas a comer um gelado e eu perguntava-te se podíamos ficar um pouco mais... Tu sorrias e adiávamos até ao último momento a hora de regressar.
Era o primeiro dia de verão.

Sem comentários: