domingo, 6 de abril de 2014

Cá dentro

 
O coração é uma casa como outra qualquer - sussurro-te. E tu finges que compreendes aquilo que não pode ser compreendido e ficas em silêncio de novo. Percebo que escorregaste outra vez para aquele lugar dentro, fundo, onde não te sei encontrar, e que deixaste de me ouvir. Continuo a pentear-te em silêncio e procuro os teus olhos vazios do outro lado do espelho, os teus olhos parados dentro da tua casa-coração, uma fortaleza sem portas para o mundo. Passo o pente dos meus dedos pelos teus cabelos brancos, enrolo-os em cachos magros e baços enquanto espero que voltes. Choro. Sinto-me só e choro. Por fim, de dentro da tua casa-coração tu dizes - Tive tantas saudades tuas... - e eu encosto o meu rosto ao teu cabelo lavado onde as lágrimas se aninham. Os meus dedos feitos barcos navegam mais devagar pelo rio do teu rosto e no abraço em que te prendo, só a tua voz é a minha âncora. 

2 comentários:

Mar Arável disse...

"os meus dedos feitos barcos
nos teus cabelos"

coisa linda

Bjs tantos

Anna disse...

:)

Beijos tantos, Eufrázio