sábado, 9 de março de 2013

Da perda



Enquanto me visto, penso que são tantas as vezes que tenho ido ultimamente a igrejas e a cemitérios... Penso nos abraços que tenho dado a pessoas que amo, desfeitas em dor, nas vezes em que a minha boca sem voz morde os lábios inúteis de palavras ou lambe um fio de lágrimas que já não vale a pena tentar secar. Penso nesta merda que é a morte, que de repente nos puxa o tapete debaixo dos pés e nos deixa assim, cegos e em queda livre, em direção ao vazio. Penso na raiva, na revolta que isto me dá, na minha impotência para enxotar a tristeza e a dor que desabam sobre nós. Penso nas casas que ficam subitamente vazias, as vidas de pernas para o ar que é preciso repensar de novo. Penso nos afetos que não cheguei a dar inteira, no tempo que nunca tive para dedicar, nas palavras que nunca disse aos que partem e que agora estão irremediavelmente perdidas. Penso que caminhamos cada vez mais sós, mais tristes, mais vazios, somando perdas eternas...
Penso em tudo isto enquanto me visto de negro e olho o meu rosto pálido e inconsolável, do outro lado do espelho. Penso em tudo isto e tenho frio. Tenho medo.  Penso em tudo isto e depois saio para mais um funeral. 

3 comentários:

Gustavo disse...

Espero que não leve a mal o que lhe vou dizer, se lhe parecer inconveniente não o publique, mas aprendi a admirá-la através da sua escrita. Uma admiração genuína. Vejo-a como uma pessoa sensível e que transmite a sua paixão de um modo tão natural quanto contagioso, estou a referir-me aos seus alunos mas acredito que a entrega aos amigos e familiares seja de igual intensidade e contágio. Por isso, felizes aqueles que partilham os seus afectos, felizes aqueles a quem dedica o seu tempo e as suas palavras. E não, não acredito que tenha ficado algo por dizer ou por fazer, acredito apenas na total entrega dos seus abraços. Por isso, chore, abrace, sinta dor, raiva, impotência mas saiba que há muita (cada vez mais) gente que gosta de si.
Abraço.
Gustavo.

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=GIZxPMeOSSw

:(

Anna disse...

Gustavo,

Não sei porque não publicaria um comentário tão simpático, tão generoso e tão honroso para mim... Agradeço muito as suas palavras e a sua ternura, bem como o incentivo que sempre vai deixando no tempo que dispensa para passar por aqui.
Muito, muito obrigada :) Volte sempre que queira e sinta-se retribuído no abraço que lhe deixo.