quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tão dentro e sempre aquém




Gostava de morar na tua pele
desintegrar-me em ti e reintegrar-me
não este exílio escrito no papel
por não poder ser carne em tua carne.

Gostava de fazer o que tu queres
ser alma em tua alma em um só corpo
não o perto e o distante entre dois seres
não este haver sempre um e sempre o outro.

Um corpo noutro corpo e ao fim nenhum
tu és eu e eu sou tu e ambos ninguém
seremos sempre dois sendo só um.

Por isso esta ferida que faz bem
este prazer que dói como outro algum
e este estar-se tão dentro e sempre aquém.
 
Manuel Alegre in Sete Sonetos e Um Quarto

3 comentários:

Hanaé Pais disse...

Lindissimo.

"Alma" de Manuel Alegre, uma boa sugestão. É sempre importante conhecer as origens de quem admiramos.

Hanaé Pais disse...

Lindissimo.

"Alma" de Manuel Alegre, uma boa sugestão. É sempre importante conhecer as origens de quem admiramos.

Anna disse...

Toda a poesia de Manuel Alegre é de uma beleza e de uma sensibilidade que comovem... Felizmente, ele vai regressando aos Manuais escolares e sendo dado a conhecer aos jovens, depois de décadas de remissão para um plano de desprezo que não merecia de todo. Um dos autores de língua portuguesa que mais respeito e admiro.

Um beijo, Hanaé. E um bom fds :)